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Hebe, Héstia, Odin, Freya e Njord – 24.08.06 – A nova teogonia – Capítulo 54

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Vide capítulo 53

 

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Odin chegou ao Olimpo quase abandonado…

 

Cavalgada Selvagem Darbo

 

Além de Mnemosine, que estava amordaçada no antigo palácio de Zeus, em razão da permanência dos efeitos do poder de Eros, as únicas divindades importantes que restaram lá, Hebe e Héstia, oravam por todos os deuses caídos; choravam pelo delicado estado de saúde de Deméter e pelo terrível fim de Hera. Ambos os corpos estavam ali, estendidos. Hebe, ajoelhada, orava pela mãe. Mal conseguia tocá-la. Estava horrorizada. Nunca imaginara ver a mãe imersa em uma poça de sangue seco, com inúmeros hematomas e fios de sangue espalhados pelo rosto e por todo o corpo, pálida e com a vagina escancarada, seca e suja. Era a visão do inferno. Lembrava da altivez da sua mãe. Nada mais paradoxal podia existir. Nada mais chocante havia. Héstia, por sua vez, tentava aquecer o corpo de Deméter, antes que esta passasse à condição de deusa caída. Acreditava que podia retirá-la do coma com o calor de sua alma.

 

héstia e deméter

 

 

- Mãe, apesar de tudo, eu te amava… Eu queria ter atendido suas expectativas… Nunca te achei uma bruxa de verdade. Mamãe, eu te amo. – Hebe falava e chorava, chorava e falava. A voz fina, baixa e embargada era só desolação. Orvalhos caíam de seus olhos. Era o pior dia da vida de Hebe. Ver a mãe derrotada pela tia, deusa do amor, e estuprada por alguém que julgava ser seu primo causava-lhe náuseas. Ver a tia abandonada por uma filha, a primavera, e torturada cruelmente por outra, a geada, era algo inimaginável. A Juventude, naquele momento, deixara de ser jovem e aprendera a lidar com a crueza e com a dor às quais todos os seres vivos estão sujeitos ao longo de sua passagem por este mundo.

 

Héstia e Hebe estavam muito tristes; desoladas. Acabadas emocionalmente. A Juventude chorava compulsivamente e só encontrava forças para continuar as preces, porque sentia o calor reconfortante e acolhedor de Héstia, a deusa da lareira, sempre delicada e presente.

 

Agora Hebe entendia porque a tia era tão respeitada e querida. Seu calor transmitia conforto e esperança. Ela ficou com Hebe no momento mais difícil de sua vida. Não a abandonou, compartilhou sua dor. Esteve presente, embora não pudesse fazer nada para reverter aquelas tragédias.

 

Entretanto, ambas esqueceram-se momentaneamente da dor e da angústia, pois ficaram surpresas com o gigantesco exército estrangeiro que batia às portas do Olimpo, monte caído, destruído e abandonado. Logo perceberam que se tratava do lendário exército de Asgard.

 

 

Hebe, inocente, sorriu esperançosa. Lembrou-se da aliança entre Zeus e Odin. Héstia, experiente, no entanto, pressentiu o pior. A deusa do fogo sentia o clima pesado daquele exército. Sentia medo, ódio, fúria e indecisão misturados nos semblantes dos forasteiros. Não, não era um exército de salvação.

 

 

Hebe, sem perder tempo, correu em direção aos alienígenas. Estava desesperada, carente e desinformada. Sempre ouvira falar das belezas de Asgard e da organização do povo escandinavo. Eram lindos, civilizados e grandes guerreiros. Hebe precisava de respostas. “Onde está papai?!” “O que havia acontecido com o Olimpo?” “Hércules, amor?” “O que será de nós?” Precisava de ajuda. Estava cansada de tantas tragédias. A imagem da mãe desfalecida mexera com ela. Sentiu falta da matriarca do Olimpo. Hera foi uma mãe dura e exigente, mas Hebe também reconhecia que ela própria era dose: desastrada e falastrona, inconveniente, sensível demais. Barraqueira. Hebe vivia mandando bilhetinhos para mostrar insatisfação. Vivia a pentelhar deuses e pessoas. Às vezes era tachada de “chata”.

 

Hebe tropeçou e caiu no chão. Chorou. Languida, estendeu os braços para os invasores. Sequer suspeitava que ali, entre os visitantes, estava Thor, o algoz de seu marido, e que Odin determinara a prisão de seu pai, Zeus.

 

- Nos ajude! – Rogou em meio a lágrimas. – Odin! Os titãs invadiram o Olimpo! Onde está papai?! Onde está Hércules?!

 

Hermod e Heimdall, que vigiavam o antigo baluarte grego há algum tempo, aproximaram-se de seu líder e o informaram do que havia acontecido. Em linhas gerais, informaram para Odin que as potestades ctônicas haviam rumado para o planeta Terra e que entre elas estavam Apolo, Idunna e Loki. Depois de algum tempo meditando e tendo sob os olhos a imagem da chorosa Hebe, Odin determinou:

 

- Levem-na para Asgard. – E acenou para que seu vasto exército continuasse sua marcha, agora em direção à Terra. Iriam atrás de Apolo, Loki e Idunna.

 

- O quê?! – Assustou-se Hebe. Ficou inerte, sem poder se movimentar. A deusa ficou com medo; o coração apertou. Héstia correu para junto da sobrinha. Queria protegê-la. Thor, no entanto, como um raio, apareceu diante das duas deusas e tomou a deusa da juventude dos braços do Fogo. Nada atrapalharia a salvação do povo de Asgard. Choro. Thor colocou-a sobre os ombros e a levou para junto de Odin.

 

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- Héstia! Héstia! HÉSTIA! – Esperneava escandalosamente a frágil Hebe.

 

- Hebe… – Lamentou impotente a Chama estendendo a mão para o horizonte infinito.

 

Hebe se debatia desesperada. Tentava se livrar dos braços musculosos de Thor, mas não conseguia. Parecia estar presa por braços de titânio. O único resultado era que seu corpo ficava, a cada tentativa de se livrar do ogro, mais machucado. A pele alva da deusa, que ficava roxa com qualquer pancada, aperto ou mordida, ficaria toda feia. Hebe berrava inutilmente.

 

Thor, ao chegar junto a Odin, deu um tranco na deusa, humpf, e ela se calou. Sentiu uma enorme dor no ventre. Falta de ar.

 

- Filha de Zeus… – Murmurou azedo Odin ao olhar diretamente para os olhos arredios da deusa dominada. O líder asgardiano estava contrariado. Odiava o fato de necessitar do auxílio grego para manter seu povo vivo, ainda mais do auxílio da filha de seu maior inimigo. – Hermod, leve-a para Asgard imediatamente. Prenda-a no centro da cidade e diga para que todo o povo asgardiano se reúna em torno dela. Isso retardará o processo de envelhecimento de nosso povo. Vamos para a Terra! – Determinou o amargo e desesperado deus. Hermod, com as sapatilhas de Hermes, tomou a indefesa Hebe pelos braços e partiu veloz para sua terra natal. O relógio corria… o tempo dos asgardianos se esgotava.

 

- Perdoe-me – Murmurou sincero Hermod ao pé do ouvido da deusa sequestrada. – Levo-te pelo bem de meu povo. Hebe nada entendeu.

 

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– Partiremos para a Terra. – Determinou Odin para o que havia sobrado de seu exército. Hermod e Heimdall, enviados por Odin para espiar as atividades do Olimpo, haviam informado ao soberano de Asgard que Apolo e os titãs haviam deixado o Olimpo há algum tempo e que se dirigiram à Terra. Heimdall, de visão apurada, cujo olhar não podia ser enganado pela barreira mágica criada sobre o Egito, apropriada apenas para ludibriar os olhos humanos e olhos divinos menos experientes, percebeu que Apolo e seus aliados se dirigiram para lutar contra os egípcios e seus aliados. Denunciou que Loki, seu desafeto, Hel e Idunna, a esposa de Braggi e esperança do panteão nórdico, integravam a comitiva olímpica.

 

Em Asgard, o palácio Valhalla foi invadido por uma plêiade de deuses desesperados. Alguns já usavam bengalas, sentiam dores na coluna ou ostentavam rugas no rosto. Outros estavam doentes ou eram alvo da calvície e das caspas. A maioria estava desesperada, praticando saques em busca de alguma maçã perdida. Poucos eram os resignados que preparavam o leito de morte para dali alguns dias ou… horas. O tempo que viveram indevidamente agora lhes era cobrado com juros e correção monetária. O processo de envelhecimento acelerava, era intenso e arrebatador, como se fosse impulsionado pela Energia Escura do universo. É certo que variava de deus para deus, mas todos sentiam que se enfraqueciam. As dores eram excruciantes e não haviam medicamentos para doenças geriátricas. Os asgardianos nunca precisaram de remédios. Aliás, não havia médicos aptos a abrandarem os efeitos da senilidade. Ainda ninguém havia morrido de velhice, mas muitos já haviam morrido em virtude de brigas, disputas e pisoteamentos.

 

Em meio a esse rebuliço, nas masmorras de Valhalla, onde a população revoltosa ainda não havia chegado, duas maçãs douradas chegaram aos lábios de Zeus, outras duas foram dadas para Atena e uma para Hermes. A força, em pouco tempo, voltou ao corpo dos deuses gregos. Gritos de dor emanaram de suas goelas divinas, os corpos retorceram-se, as feridas aos poucos se fecharam. Valhalla tremeu. Prédios ruíram. Nuvens carregadas iniciaram uma dança perigosa nas cercanias do palácio. Os invasores se silenciaram. Tremeram de medo. Alguns fugiram, outros voltaram a pilhar o palácio, mas em silêncio.

 

Freya havia se levantado. Depois de muita reflexão e fragilidade, sozinha, ela resolveu lutar. Lembrou-se de Frey, de seus ensinamentos, de seus exemplos. Pensou no que ele faria em seu lugar. Motivada pelas palavras de Tyr, arranjou forças. Parou de chorar. Lutaria por seu povo, derrotaria Odin, se vingaria de Apolo, procuraria seu pai e, por fim, buscaria Frey no inferno gelado de Hel. Libertou Zeus, Atena e Hermes, deu as maças douradas dadas por Tyr para seus antigos aliados, pois com eles pretendia partir, assim que o processo de restauração da compleição física estivesse terminado. Neste meio tempo, saiu em busca de seu pai. Surgiu em meio ao salão central linda, poderosa, radiante e determinada. Questionando alguns deuses nórdicos sem dentes, soube do paradeiro do seu pai.

 

Njord ainda estava desolado no campo de batalha onde foram travadas as lutas entre Thor e Hércules e entre Tifão e Zeus. Em meio aos corpos, à devastação e ao choque, ainda estava confuso e impotente com a morte de seu filho e com o desaparecimento de Freya. Permaneceu inerte, sozinho. O tempo parecia ter parado para ele. Não dava para acreditar… Lembrava-se do sorriso do filho e da filha… Aquilo era um pesadelo.

 

freya, njord e frey

 

- Pai!

 

Um estalo na mente. Njord se voltou para a voz do além que o chamava, mas nada viu. Parecia que Freya não estava diante dele. Njord olhava para o nada. Era a voz de Freya? Estava vivendo um sonho? Estaria louco? Lembranças povoavam sua mente. Lembrou-se do nascimento de Freya, da infância…

 

- Pai, sou eu, Freya. Lembra-se? – A deusa percebeu a incredulidade do pai. Aproximou-se de Njord e o abraçou forte. Njord, a princípio, de olhos arregalados e profundos, não acreditou ser aquela deusa sua filha, mas logo cedeu de emoção. Ajoelhou-se no chão. Chorou convulsivamente.

 

- Filha? Eu te amo. – A voz estava trêmula. – Achei que a tivesse perdido.

 

- Eu também te amo, papai. – Disse Freya ajoelhando-se também. Acariciou o pai. Abraçou-o novamente. – Pai, preciso do senhor. Precisamos salvar Asgard. Preciso salvar Frey. – Olhou para os olhos marejados do pai. Segurou o rosto do pai com as duas mãos. – Preciso de você.

 

O coração de Njord voltou a bater forte. O sangue correu rápido pelas veias divinas.

 

- Sim. SIM! Frey! – Murmurou. Um mar revoltoso de esperança o atingiu. Um tsunami de determinação sobre ele bateu. Ainda tinha pelo que lutar. Tinha uma razão para viver. Lutaria por seus filhos. Lutaria por Freya. Desceria até o Nifheim para salvar seu filho.

 

- Vamos resgatar Frey do Nifheim! – Clamou Freya.

 

E logo ambos, pai e filha, voltaram às masmorras onde Zeus, Atena e Hermes terminavam o processo de recuperação e restauração do corpo e do poder aos berros.

 

 

Minutos depois, raios poderosos caíram sobre o palácio Valhalla, imediações e, enfim, sobre toda Asgard. Muitos dos habitantes acharam que era Thor se manifestando, alguns, já sem memória, afetados pelo Mal de Alzheimer, sequer faziam idéia do que poderia ser. Tremiam. Achavam que era o Ragnarok. Gritaram, alguns de medo, outros de exaltação, mas sem muita convicção. Nada compreendiam. Por que Thor fazia manifestações de força? Aquele era o Ragnarok? A situação era de penúria. Pura decadência. Mal sabiam que aquilo era fúria de Zeus.

 

zeus furioso

 

Um gigante havia se levantado novamente, renovado, irritado e disposto a recuperar o que era seu e destruir aquele que o torturou. Uma grande explosão ocorreu nas entranhas do palácio e logo cinco raios de luz (dois brancos, um amarelo e dois azuis) partiram no encalço de Odin. Zeus, Atena, Freya, Njord e Hermes partiram atrás de Odin, Apolo, Hórus e de quem estivesse na sua frente.

 

CONTINUA…



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