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Zeus, Atena, Hades, Perséfone, Poseidon, Hera, Janus, Ganimedes – 24.08.06 – A nova teogonia – 10ª parte

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VIDE 9ª PARTE

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15.01.07 –

- Hades está aumentando ainda mais seus exércitos e não são mais apenas forças defensivas. Desde a expulsão, a força militar do inferno parece ter dobrado. Nossos espiões estão sendo eliminados um a um. – disse Atena preocupada. – O inferno virou um baluarte inexpugnável. – complementou a deusa.

hades, inferno

Zeus olhava com preocupação para o que ocorria no reino de Hades. Apesar disso e das mágoas passadas, sentia falta do irmão mais velho. Todavia aquela briga em seu palácio, durante a comemoração de dez mil anos da vitória sobre Tifão, ainda estava fresca em sua memória. Havia rancor e ressentimento de ambos os lados.

Hades quebrou regras seculares naquele evento. Pior que isso, apenas o descumprimento de um juramento feito sobre o rio Estige. Nem Zeus estava livre de cumprir promessas feitas perante o rio. Caso as descumprisse deveria ser lançado ao Tártaro. Felizmente ninguém tinha coragem para fazer isso…

Zeus viu Perséfone ser agredida na própria morada. Lá foi insultado, desautorizado e desafiado na frente de uma enorme plateia. Éris jogou o pomo da discórdia e Hades, ao vê-lo, foi corroído pelo ciúme. Fraco! Hades amava tanto Perséfone?

Zeus estava se sentindo mal, era empático, e sabia como o irmão se sentia: a mesma coisa. Sempre admirou o irmão e agora ostentava a condição de inimigo mortal. Os dois eram opostos que se completavam. Zeus político, eloquente, demagogo, vivia no céu iluminado; Hades, o soberano do submundo, sempre sóbrio, comedido, silencioso e reservado. Mas, e esse era um pensamento que lhe doía, o que estava feito, estava feito e não havia volta. O sentimento de honra e orgulho era muito forte nos dois. Sentimento que só poderia ser explicado pela testosterona divina.

- Ele está construindo um baluarte inexpugnável? Mas para quê? O que quer esconder? O que trama? – Se perguntava Zeus. – Está louco? Está querendo me desafiar?

- Se esperarmos mais, não poderemos ter essas respostas sem grandes perdas ou mesmo sem uma guerra total. – Observou apreensiva Atena. – Isso porque Poseidon não ajudará a penetrar no Inferno, o que nos daria grande vantagem, e há muitos descontentes no Olimpo. A cada dia que passa, fica mais difícil lidar com os deuses menores. Alguns veem essa divergência como uma oportunidade para galgar postos e vender apoio, como Janus. Em breve, o problema poderá se estender para os demais panteões. Seria como uma avalanche…

athene

Zeus ficou com o ar grave. Já fora vítima de conspirações e sabia que poderia ser novamente. Sua autoridade já era contestada nas pequenas rodas de amigos e nos rincões mais escondidos do Olimpo. Sabia que só poderia confiar em Atena e Hermes para aplacar qualquer rebelião interna. O tripé havia se desfeito. Poseidon só o ajudaria em caso de ataque externo e Hades se tornara o inimigo interno e o pior que poderia haver. Odin não ajudaria, pois se tratava de uma questão interna e a aliança fora firmada para afastar a pretensão expansionista de outros panteões.

- Sim. O ideal é agirmos rápido, como um raio, mas precisamos de um pretexto para tanto. – Argumentou o soberano. – Sem um bom argumento ou motivo, não posso agir.

Atena se calou. Era fundamental conhecer os planos de Hades para se tomar qualquer atitude gravosa. Até vir à tona o escopo do imperador do submundo, a opinião pública não poderia ser usada por Zeus. Um passo errado, uma medida precipitada, o deus dos deuses ficaria isolado.

atena

A princípio e aos olhos menos experientes ou menos conhecedores do rancor de Hades, o deus do submundo apenas estaria se defendendo de eventual ataque. Hades continuava a cumprir a função de receber e acolher a alma de mortos. E como sempre, não incomodava ninguém. Limitava-se a ficar no seu reino, a administrá-lo e a zelar pela integralidade do Tártaro.

- Fiquemos alertas e armemos nossos exércitos, pai. – disse Atena com certa hesitação. A pouca convicção de Atena chamou a atenção de Zeus e tal ocorreu não só porque ela era a deusa da guerra e deveria estar estimulada com a situação de iminente beligerância. Havia outra coisa…

Há muito tempo Atena pensava no reinado do pai. Seria a hora de uma renovação? Zeus era um bom governante. Melhor que Urano ou Cronos, mas o continuísmo era uma praga que atingia a Helade. Sempre existiram guerras pelo Poder. E logo haveria outra, de grandes proporções.

Por muitos anos, Atena, aconselhada por Prometeu, estudou a democracia humana. Com efeito, apesar de não ser o regime ideal, era o menos ruim de todos aqueles que ela já havia visto nos vários mundos a que tinha acesso. Evitava ditaduras, absolutismo, abusos e governos personalistas, caudilhescos ou messiânicos. Permitia também a renovação periódica e o engajamento político. O Olimpo, talvez, precisasse daquilo. Não contava com bilhões de seres paritários como ocorria na Terra, na qual seus habitantes eram desprovidos de poderes sobrenaturais, circunstância que fazia com que os humanos precisassem de institutos de representação para se organizarem, mas todos naquele monte e nas cercanias dele tinham cérebros e sonhos que deveriam ser respeitados. Não era justo que tudo ficasse nas mãos de Zeus. E, pior, nas mãos de Hera quando da ausência do esposo. A bruxa era insuportável e uma assassina. Frequentemente pessoas e criaturas eram mortas por meros caprichos ou por discussões e questões fúteis dos deuses, o que gerava muito medo e aflição.

Prometeu

Eleições livres, voto secreto, direto e periódico seria uma bela tentativa de mudança. Mas como convencer Zeus disso? Por que o mais poderoso dos deuses teria que se sujeitar ao governo de um ser menos poderoso ou mesmo desprovido de qualquer poder. Jamais admitiria que a hora dele havia chegado ou que era necessário disputar o poder, algo que sempre tivera desde a vitória na titanomaquia.

Por outro lado, ele, apesar de todos os defeitos – e bota defeito nisso – era um bom governante, que amava o seu povo e que governava, na maior parte das vezes, para os pares. Vigia, normalmente, a supremacia da coletividade. Tinha o apoio de Poseidon, de Hades, de Hermes e da própria Atena – embora os dilemas e pretensões democráticas povoassem a mente da “sabedoria” há muito tempo. A figura de Zeus sempre rendeu estabilidade e segurança para os habitantes. Enfim, previsibilidade, em que pese a ausência de um corpo de normas escritas. Zeus havia derrotado inúmeros inimigos e trazido a paz, ainda que armada, para todos os panteões. Apesar de ser difícil lidar com tanta vaidade dos olimpianos, tanta beligerância dos nórdicos, sempre dispostos a lutar, e do sempre iminente perigo egípcio, Zeus conseguia ajeitar as coisas.

Aquela situação era de difícil resolução até mesmo para a deusa da sabedoria: mudança ou continuidade? Ganesha, Toth e Forseti, outros deuses da sabedoria, poderiam ajudá-la a solucionar a questão e convencer Zeus da necessidade de mudança caso chegassem a conclusão de que as coisas precisavam mudar. Aquela crise sem precedentes no Olimpo era uma boa oportunidade para levantar as discussões ou seria oportunismo?

Ganesha_by_GENZOMAN

Atena deixou Zeus só. Sentiu que o pai havia percebido algo de estranho nela. Dúvidas, insegurança, incertezas, esgotamento daquele modelo de governo… Amava o pai, mas, sim, de fato, tinha muitas dúvidas. Não queria que o soberano dos gregos tivesse mais um baque. Não bastasse a briga com o irmão, o casamento conturbado com Hera, as sucessivas decepções com Ares, a ameaça e a xenofobia de Apolo, a politicagem com os outros panteões, seria mais um soco no estomago de Zeus a desconfiança de Atena, a filha predileta.

As hesitações e reflexões de Atena eram conhecidas de todos, inclusive pelo pai, que até então não as havia levado a sério. Atena era extremamente sincera, às vezes até demais, e dificilmente conseguia esconder os pensamentos. Era uma deusa extremamente objetiva e clara.

Zeus, reflexivo, ficou triste. Até Atena mudou?! É mais uma que tramará a tomada do poder?! Atena sempre tão concentrada, companheira, estudiosa, organizada e determinada. Estava ao lado do pai sempre que ele precisava; escondia as aventuras amorosas do pai de Hera, embora não concordasse com elas; aconselhava-o; lutaram lado a lado, em especial na gigantomaquia e na expedição à Terra dos Gigantes; era verdadeira e leal. Atena possuía crédito.

Zeus, ao mesmo tempo que sentia orgulho da filha, sentia pena da divindade. Ela acreditou na história de que a mãe sumira durante o parto. Apesar de ter sido avisada à sorrelfa de que o pai deu um “chá de sumiço” na titã Métis, mãe de Atena, em razão da profecia de que o filho deus da titã e de Zeus o substituiria no poder, a deusa da sabedoria – braço direito de Zeus – jamais acreditou nessa história. O pai não seria capaz! Um motivo tão fútil. Zeus havia lutado contra a tirania de Cronos. Devia ter aprendido que o poder não é eterno; que não há como mantê-lo indefinidamente. Atena acreditou no pai.

Mas Zeus foi capaz de dar um fim em Métis. Fê-lo em nome do poder. Ambicionava perpetuar-se nele. Egoísta! Aprisionou Métis em um lugar que só ele e os irmãos, Hades e Poseidon, tinham conhecimento e acesso. Não podia simplesmente deixar de “comê-la” para evitar um sucessor mais poderoso? Receava que Hades de algum jeito demonstrasse a verdade dos avisos dados a Atena no passado em virtude da atual quizila. Mas não… não, Hades, apesar dos pesares, honrava a palavra.

Por outro lado, manter-se no vértice superior estava ficando cansativo. O que estava fazendo de errado? Atena estaria certa? Continuidade ou mudança?

Não bastassem todos esses dilemas e problemas com Hades, Poseidon, egípcios, Atena, Hera, Apolo e etc, Zeus ainda enfrentava diariamente, o maior inimigo. Aquele que era ao mesmo tempo a maior virtude e a maior fraqueza. Aquele que talvez fosse o único com capacidade para derrubá-lo definitivamente do Olimpo. Aquele a quem se rendia instantaneamente, ainda que transitoriamente. Não, não era ele mesmo o maior inimigo. Era seu pênis.

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O desejo incontrolável de gozar destruiu o casamento com Hera, levou muitos a sentirem nojo daquela compulsão sexual divina e poderia acabar gerando um filho que o despojaria do tão amado poder. Métis, a titã e Tétis, a nereida, mãe do famoso herói Aquiles, seres femininos que segundo as profecias, se fecundadas por Zeus, dariam a luz a filhos muito mais poderosos do que o pai. Seria uma repetição do que havia ocorrido com Urano e Cronos. Todavia, quem garantiria que só aquelas duas gerariam filhos de Zeus mais poderosos que o pai. Zeus se unia a centenas de criaturas do sexo oposto anualmente. Não seria improvável uma concepção que gerasse um descendente poderoso a ponto de sobrepujar o dono do Olimpo. E se ele não fosse avisado a tempo? E se Hera não desse cabo da vida da nova criança antes que ela crescesse e derrubasse Zeus do poder? Sim, o pênis de Zeus, como já havia dito Hera inúmeras vezes, o levaria para a escuridão e esquecimento.

Zeus, às vezes, seja por diversão, seja por desespero, conversava com o próprio órgão sexual, buscava controlá-lo, masturbava-se com frequência. Ganimedes o ajudava a manter-se sobre controle – na verdade o serviçal era obrigado a ser objeto sexual do dono do Olimpo, pois Zeus gostava muito dele e com o escravo sexual não haveria risco de procriação e da superveniência de sucessores poderosos ou de assassinatos de sua prole ilegítima por Hera. Enfim, era uma dura rotina a de Ganimedes de ser violentado constantemente, um terrível castigo.

Mas para Zeus nada funcionava por muito tempo. A “fênix de fogo” em forma de falo ressurgia todos os dias, todas as horas, incandescente e quente, de forma a tornar o soberano refém do próprio órgão reprodutor. Zeus era praticamente um viciado em sexo e, no fundo de seu âmago, apesar de se vangloriar da potência divina e de preferir a compulsão sexual a uma vida sexual desastrosa como a de Apolo ou comedida e estável como a que Hades manteve com Perséfone, temia que as palavras de Hera se concretizassem. O desejo sexual o derrubaria.

CONTINUA…



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