————-
13.08.08
Nesse dia, no Olimpo chegou a notícia de que Tétis, a nereida, filha de Nereu, havia sumido sem deixar vestígios. Houve muito burburinho na morada dos deuses. Alguém como Tétis, a dos pés prateados, desaparecer assim?! Sem mais nem menos? Era inacreditável! Apesar da relevância da moça, alguns ficaram indiferentes com a notícia, outros a receberam com naturalidade – era normal que algumas divindades sumissem por algumas centenas de anos ou que fossem seladas após serem derrotadas em uma árdua batalha ou que perdessem a consciência por décadas ou mesmo séculos após um trauma muito grande, como uma cabeça cortada ou uma punhalada no coração ou a explosão de todo o corpo –, pois elas sempre davam um jeito de voltar, ainda que desprovida dos corpos físicos originais e únicos aptos a manifestarem todo o poder que possuíam por natureza, afinal de contas todas eram imortais.
Zeus e Atena, entretanto, ficaram muito preocupados. Ambos sabiam que Tétis, a nereida, se fecundada por Zeus ou Poseidon, segundo a profecia de um oráculo, daria origem a um filho que destronaria o pai. Por isso, ambos, Zeus e Poseidon, sempre determinaram que os respectivos servos a mantivessem fora do alcance deles – a carne era fraca… Não que Tétis fosse extremamente bela, embora fosse charmosa, mas, talvez, a sensação de prazer proporcionada pelo perigo de praticar o ato sexual com aquela criatura fosse maior do que o medo das possíveis consequências. Poseidon, no entanto, pouco se importou com a notícia, pois para ele era melhor que a filha de Nereu, o velho do mar, filho do deus primordial Ponto, sumisse de uma vez por todas.
Para Zeus valia a mesma regra, seria muito melhor que aquela nereida sumisse para sempre do mapa, mas este não gostava que as coisas fugissem de controle. Queria saber de tudo e imediatamente. Queria as respostas relativas às questões de Estado para ontem. Além disso, tinha uma dívida de gratidão com Tétis, que foi aquela que chamou Briareu para libertá-lo na conspiração liderada por Hera.
Neste diapasão, Zeus determinou que Atena investigasse o caso, pois nos próximos dias ele estaria ocupado. Iria viajar para a Terra, porque já não aguentava o clima desagradável no Olimpo. Hera estava silenciosa, emburrada, matreira e insinuosa desde os fatos relacionados a Puff, que ainda se recuperava do trauma (o bichano estava arredio, medroso, deprimido, pois as pavoas não mais se interessavam por ele, e se desesperava quando via Zeus). Zeus sentia que a víbora estava tramando alguma coisa. Queria ficar longe dali para não perder a cabeça e fulminá-la ou prendê-la novamente. Zeus estava angustiado, embora fizesse questão de mostrar pulso firme. O único apoio que ainda tinha era Atena, Hermes e, formalmente, de Asgard. Havia perdido Hades e afastado Poseidon, que se mantinha incomunicável na Terra, no meio do oceano atlântico dentro do seu palácio (recusou o convite para a recepção de Perséfone).
A potestade do Olimpo preferia a esposa lhe lançando raios e injúrias do que em silêncio, desviando o olhar sempre que o via, valendo-se de meias palavras. Odiava ironias. Sentia que Hera buscava irritá-lo, torturando-o aos poucos, sempre de forma indireta e dúbia. Uma verdadeira guerra silenciosa e que, como já sabia Zeus, estender-se-ia por alguns anos, talvez décadas. Esperava que logo que as plumas de Puff se restaurassem e a esposa voltasse ao normal: a velha e chata Hera de sempre.
Atena teria dificuldade para cumprir a missão. Tétis morava na Terra, mais exatamente no litoral grego, próximo aos pequenos reinos submersos de Nereu, Ponto e Oceano. Nestes três reinados iniciar-se-ia a busca.
Atena procuraria primeiro nos mares pelo rastro de Tétis, pois, afinal de contas, a moça era uma nereida, uma ninfa do mar, e os continentes daquele planeta estavam abarrotados de seres racionais. A água salgada era o ambiente natural das nereidas. Infelizmente, os mares, quase todos de posse de Poseidon, eram extensos demais. Se Atena não encontrasse Tétis, a nereida, no reino de Nereu, de Ponto ou de Oceano estaria perdida. O império de Poseidon era vasto demais e o imperador dos mares não a ajudaria, pois estava extremamente contrariado com a ameaça feita por Zeus no dia da desavença com Hades. Ademais, Poseidon e Atena nunca se deram bem, desde a famosa briga pela cidade de Atenas, vencida pela deusa, passando pela discussão causada pela conjunção carnal entre Poseidon e Medusa em um dos templos dedicados à Atena até outros entreveros de menor repercussão durante a cruzada na terra dos gigantes de gelo. Além disso, Susanno, o imperador japonês dos mares, e Njord, o deus nórdico dos mares, não ajudariam a filha de Zeus. Ambos não gostavam dos Olimpianos.
Assim, como dito, apenas Nereu, Ponto e Oceano podiam ajudar, mas o deus primordial (Ponto) e o filho (Nereu), respectivamente avô e pai da nereida sequestrada, só dominavam uma ínfima parcela dos oceanos, e dificilmente Tétis estaria ali. E o mesmo valia para Oceano. O titã regia um pequeno reinado no mar Egeu e provavelmente não poderia ajudar a neta filha de Zeus. E isso por uma questão muito simples: se Tétis estivesse em seus domínios muito provavelmente ele ou a esposa saberiam.
Quanto ao plano terrestre, que era subsidiário nos planos da deusa da sabedoria, a perspectiva não era das melhores. Prometeu, tutor e defensor do mundo terrestre, sempre estava muito ocupado tentando apaziguar os corações humanos. Trabalhava na O.N.U. Sentia-se triste, pois sua maior criação, o homem, apesar de próspera (mais de seis bilhões de habitantes à época) sempre esteve envolvida em guerras, durante o tempo em que ficou acorrentado e principalmente depois da libertação das correntes. Teria válido a pena? Hoje eles eram capazes de se autodestruir e mesmo destruir um deus com o armamento militar que haviam construído – as temíveis armas nucleares. Zeus não gostava dessa ideia e muitas vezes pensou em revogar a licença que dera para a humanidade viver em paz, sem a interferência divina. Aliás, a paciência de Zeus com os humanos estava acabando, pois eles sempre se mataram por causa de deuses monoteístas que jamais apareceram na sua frente e que nunca deram sinais de existência. De mais a mais, os seres humanos estavam se esquecendo dos deuses das mitologias.
Porém, Prometeu, sempre muito persuasivo e diligente, convencia Zeus que o grau de desenvolvimento da Humanidade ainda não poderia atingir o plano divino – mais especificamente o Olimpo, nem mesmo o mundo das fadas, cuja entrada ficava na Grã-Bretanha – algo que talvez jamais conseguissem, pois, infelizmente, as maiores forças dos humanos que eram a união, a solidariedade, a educação e o amor, eram alijadas de mais da metade da população mundial, o que tornava a Humanidade fraca e desunida, presa às próprias contradições, muito aquém do potencial que poderia atingir. Por fim, Prometeu argumentava que os humanos eram capazes de proporcionar diversos espetáculos e divertimentos também.
Atena e Hefesto, então, se dirigiram para o mar Egeu. Visitariam os submersos pequenos reinados de Nereu, de Pontos e de Oceano por cautela e para expurgar o óbvio da lista de possibilidades.
O primeiro a ser visitado foi Nereu: O palácio de Nereu era muito pequeno, na verdade não se podia falar que existia um palácio ou um templo, mas sim um casebre, uma caverna submarina enfeitada por corais e algas. Nereu vivia sozinho, vez ou outra recebia a visita de alguma das cinquenta filhas e de Dóris, a esposa oceânide, e frequentemente encontrava-se deitado na frente da caverna onde morava camuflado em meio a algas, corais ou cardumes de peixes nativos da região. Apenas podia ser visto quando fazia algum movimento brusco.
O velho do mar só queria saber de sossego. Logo seguiria o caminho de outros deuses antigos, deixando o corpo físico e poderes para trás para virar espírito ou fenômenos naturais, tal como aconteceu como Chronos, o deus primordial, não o titã derrotado por Zeus, Fanes e Caos, o deus que deu origem a tudo e a todos.
Nereu tinha o dom da previsão e Atena sabia disso, outro motivo para visitá-lo. A deusa tentou tirar algo do velho, mas conseguiu apenas palavras vagas. Nereu disse, por meio de telepatia, pois estavam todos sob o mar, cercados de água e cardumes de peixe, que o ódio pairava sobre o Olimpo e que não podia ver nada além dessa grossa capa de negrume e de desprezo. Disse também que o ódio derivava de várias fontes e que em breve teria outras fontes em corações seriamente machucados.
Atena ficou preocupada, queria saber mais, insistiu:
- De onde vem tanto ódio? Por quê? – Olhou diretamente para o deus marinho como se a camuflagem não existisse. Via-se uma forma humanoide extremamente envelhecida e cabisbaixa, cansada de viver, vítima da melancolia e da solidão.
Mas em que pese a insistência da deusa, nada mais foi tirado de Nereu a não ser que a resposta às perguntas eram óbvias para qualquer mente sábia e que ainda haveria mais ódio pairando naquele lugar. Um ódio puro de quem viveu uma ilusão por milênios.
Atena, como asseverado por Zeus, não conseguiu nada de objetivo ou de revelador de Nereu. Obviamente havia muitas pessoas que odiavam Zeus, mas existiam tantas outras que o amavam, como ela própria, Hermes, Afrodite e Tétis, a nereida. Zeus era um bom governante, apesar de ultimamente estar dando muitas mancadas.
Atena e Hefesto, então, nadaram até o reinado de Ponto, o deus primordial do mar, filho de Gaia e que vivia em união estável com Tálassa há cem mil anos. Ponto nunca entrou em conflito com ninguém e era extremamente pacífico. Era muito observador e humilde. Normalmente recebia as netas nereidas em seu palácio colossal – protegido por uma capa mágica que o escondia dos olhares humanos e os livrava da água do mar -, mas também recebia todos que dele precisassem de ajuda. Todavia, naquele caso, não sabia nada sobre a neta considerada pelo Olimpo como a mais importante nereida – para ele todas eram iguais em relevância. Desejou sorte para Atena e para Hefesto. Tálassa disse que Hefesto era lindo e que ambos formavam um belo casal. Tálassa era talvez o ser mais doce de todo o panteão grego e naquele momento ganhou um fã incondicional: Hefesto. Nunca ninguém havia elogiado a aparência física daquele deus deformado e permanentemente complexado. Tálassa, sempre feliz e contente, muito amorosa e gentil, cuidava do palácio submerso e do que caísse nas suas mãos como se fosse um bem próprio.
Finalmente foram para a morada de Oceano. Oceano foi um dos titãs que não tomaram parte na titanomaquia. Manteve-se neutro. Vivia com a esposa Tétis, a titânide.
Para Oceano era sempre uma alegria a presença de Atena no fundo do mar, no majestoso palácio que governava ao lado de Tétis, a titânide, pois se lembrava da filha perdida, Métis, mãe de Atena. Com efeito, Atena era o único resquício da cria sumida misteriosamente após dar à luz àquela que agora o visitava. Saudades e tristeza. Diferente de Atena, Oceano e Tétis, a titânide, suspeitavam do estranho sumiço da filha durante o parto, mas não tinham provas contra Zeus, apenas o conhecimento de outra profecia que rondava o soberano. Assim sendo, apenas lhes restou se afastarem educadamente do senhor do Olimpo.
Ambos sentiam mais falta ainda da querida Métis quando Atena os visitavam, mas sentiram-se felizes pela ilustre visita. Queriam que Atena ficasse ali, porém a deusa da sabedoria tinha uma missão a cumprir. Além disso, sabia que logo, os avôs, Oceano e a titânide Tétis, logo retomariam o assunto que ela tinha baixa tolerância: o do desaparecimento de Métis. Talvez este fosse o único assunto que causava estresse em Atena. Suspeitas absurdas e desprovidas de qualquer início de prova. Como podiam presumir a má-fé de Zeus desta maneira? Era a única a defender o pai? Atena procurou sinais de Métis até no Tártaro e nada achou. Fez buscas por mais de sete séculos e nada encontrou. Se Zeus realmente tivesse feito alguma coisa de errado com a ex-esposa, ela saberia. Talvez ela tivesse virado espírito ou sumido por livre e espontânea vontade. O certo é que Atena acreditava em Zeus, até porque, assim como Métis, Tétis, a nereida, também podia gerar um sucessor de Zeus que o destronaria e ele nunca havia feito qualquer mal à criatura filha de Nereu.
Enfim, o insucesso da procura nos locais mais óbvios levaram Atena a tomar a única medida que poderia tomar: a busca por indícios do paradeiro de Tétis na casa e bairro onde morava a desaparecida. Infelizmente, para tanto, precisaria, imprescindivelmente, de Hefesto e das geringonças por ele criadas.
De fato, o deus engenheiro possuía uma imensa fábrica e gigantescos estoques de parafernálias de todos os tipos, para todos os fins. Construíra, inclusive, um exército de autômatos para lhe servir de arma de ataque e de defesa. Além disso, construiu um vigoroso sistema de defesa no Olimpo de forma a torná-lo uma verdadeira fortaleza que só poderia ser violada pelos deuses mais poderosos do universo e ainda assim com muita dificuldade. Também construía mulheres para deleite próprio, embora neste campo jamais tivesse obtido êxito. As mulheres que criava eram tão complicadas quanto as verdadeiras e jamais se interessavam por ele. Ostentavam vícios de caráter muito grande, o que deprimia Hefesto. Ele queria fazer a mulher perfeita para se unir a ele. Tão bela quanto Afrodite, mas que o admirasse pelo engenho que possuía; que o ajudasse a construir novas máquinas e geringonças, sem frescuras; que fizesse muito sexo com ele sem reclamar que estava insatisfeita; que não se encantasse pelas luzes do Olimpo ou pelo poder e vigor físico de outros deuses; que não se importasse com sua feiura fora do normal, com os defeitos físicos de seu corpo ou com o pau pequeno que possuía; que fosse inteligente e que conversasse sobre os assuntos que ele gostava de conversar: mecânica quântica, eletrodos, biotecnologia e nanotecnologia. Hefesto se esmerava em construir uma mulher assim, mas nunca conseguia. A mais feminina e delicada que construiu e mais próxima daquilo que queria para si foi Pandora, mas contou com a ajuda de Atena e com as diretrizes de Zeus.
No passado, ambos os agentes do Olimpo na Terra, Atena e Hefesto, se desentenderam, pois o deus se apaixonara por Atena e tentou possuí-la à força. Tentou estuprar Atena, mas nada conseguiu. Atena se desvencilhou daquele pobre diabo rejeitado pela coletividade feminina e fugiu. Infelizmente, Atena, antes de conseguir se livrar dos braços indefinidos de Hefesto, foi atingida por uma gozada do deus das forjas. Ele sofria com ejaculação precoce. Bastou roçar o pênis na perna da deusa da guerra para que o esperma saísse da “base”. Atena, enojada, limpou aquela porra. Jogou-a na terra. O sêmen fecundou a terra e deu origem a Erictónio. A deusa ficou com vontade de acabar com Hefesto, mas teve pena do meio irmão. Não valia a pena. Era um ser masculino desesperado.
Atena, embora não soubesse se ainda havia paixão no coração de Hefesto, chamou o meio irmão para a empreitada. Fê-lo não só porque precisava das máquinas do meio-irmão, mas também porque não temia nova investida de Hefesto, afinal de contas estava mais poderosa do que nunca. Quase ou tão poderosa quanto o próprio Zeus. Ela se garantiria em caso de novo ataque e desta vez não teria dó nem piedade. Estava decidida. Atena se manteria virgem para sempre, assim como Ártemis, Héstia e Íris – muito embora Ártemis já tenha fraquejado no intento de se manter imaculada por toda a eternidade e muito embora Íris se mantenha virgem por imposição de Hera, que queria uma serva casta.
Os trabalhos se iniciaram. As máquinas de Hefesto trabalharam a todo o vapor vasculhando, fotografando e analisando elementos químicos na última moradia conhecida de Tétis, uma mansão a beira mar. Seria um longo trabalho…
Enquanto isso, no Inferno, Minta, a ninfa esverdeada, substituta natural de Perséfone, havia passado quase um mês nos Campos Elíseos se bronzeando e cuidando do corpo, aproveitando também para dar uma passadinha no rio Cócito onde estava a família e as amigas, voltou para o palácio de Hades para assumir o lugar que era seu de direito.
O cheiro de menta da musa inundou o ar do palácio. Estava mais forte do que nunca. Não havia mais Perséfone para atazanar sua vida e pelo que sabia Hades acabaria com o Olimpo e seria o ser supremo de todo o universo e ela, logicamente, a querida esposa. Seria o máximo! Sairia daquele mundo desolado para um mundo de luz. Seria a nova deusa da beleza e do amor. Afrodite que a aguardasse. Viveria tomando banho de sol, cuidando do corpo, dos cabelos, das unhas e faria tudo o que tinha direito para ficar bela e irresistível. Talvez até conseguisse manter alguns amantes… Os seios arfavam com as perspectivas. E para tanto só precisava “dar” esporadicamente para Hades. Tadinho. Qual era a opção dele? As fúrias. Gargalhava.
Lembrou-se do dia que Hades quebrou a maldição jogada por Perséfone milênios de anos atrás:
“Plim.
- Hades? O que aconteceu? – Minta acordou assustada. – Cadê a cadela? Ela lançou um poder sobre mim e tudo escureceu. – A lembrança da rival a pôs em alerta. Temia que ela terminasse aquele ataque, que era a última coisa de que lembrava.
- Perséfone não está mais entre nós. – Disse sucinto Hades, sem olhar diretamente para Minta.
- O quê? A cadela foi embora? – Ficou surpresa, depois gargalhou de alivio. Finalmente seria a esposa de Hades. Correu em direção à Hades. – Então você está sozinho? Coitadinho. – Apertou as bochechas do soberano. – Hades não pode ficar sozinho. Você precisa de uma esposa. Tão carente… – Acariciou a testa do deus. – Olhe, as fúrias estão dando mole ali. – Gargalhou. Alecto, a líder das fúrias sorriu. A fúria líder nunca havia pensado nesta possibilidade. – Fique com elas. – A ninfa pérfida gargalhou ainda mais.
- Sente-se na porra do trono! – Esbravejou Hades sem olhar diretamente para a Minta. Alecto voltou a ficar séria. Que chance ela teria? Continuaria amando Hades, sendo fiel a ele e ninguém jamais saberia disso.
- KKKKKKKKKK – Minta se dirigiu toda contente para o trono. Mas no trajeto percebeu que havia algo de errado. O castelo estava diferente, o trono, a sala, os castiçais, os quadros, as estatuas, a energia negativa de Hades acima do normal (estava forte até para ela que se acostumara com aquilo). Não era possível que de um dia para o outro tudo tenha mudado tão rápido. E a cadela vira-lata? Onde estava? Tudo estava estranho.”
Quinze mil anos como uma maldita planta. Quando Minta descobriu o tempo que ficou como uma plantinha no meio do salão de Hades seu mundo caiu por terra. Foi um choque! Maldita seja Perséfone! Entre um e outro repente de agressividade e ira, Minta reconhecia que finalmente havia chegado a sua hora, a hora de Minta, a ninfa do Cócito nascida para brilhar e ser cortejada. Yes!
Porém…
- O QUÊ?! – Gritou histérica.
Ao lado de Hades, acomodada sobre o outro trono, estava uma figura feminina, com trajes nupciais negros. Não era muito bonita, mas também não era feia.
- Quem é essa?! Hades! O que está acontecendo aqui? Eu fico um mês fora e você já me vem com outra sirigaita? E feia ainda por cima?! Ela está sentada no meu trono! HADES! Eu exijo uma explicação, AGORA! – Gritava Minta escandalizada enquanto sentia os planos de luxúria se desfazerem como areia fofa nas mãos. Passou de esverdeada para avermelhada.
Hades olhou para o horizonte transtornado e cansado. Por que ela tinha que ser assim?
- HADES! Fala comigo! Não seja covarde! – Minta partiu em direção a Hades. Hypnos e Thanatos, que faziam a guarda pessoal de Hades, saíram das sombras e impediram o avanço de Minta, que lutou para se desvencilhar. – Hades, eu te amo! Por favor, de novo não! Eu mereço um pouco de consideração. – Desespero…
- Hypnos, faça ela dormir. – Determinou Hades aborrecido olhando para o horizonte. Imediatamente Minta, que já chorava copiosamente presa entre os braços dos capangas de Hades, dormiu profundamente.
Tétis, a nereida, figura feminina que ladeava Hades, estava nervosa. Não compreendia porque o soberano do submundo a trouxera para o inferno. Seria por causa da profecia? Mas qual o motivo daquilo tudo? Ele não fazia parte da profecia. Havia sido sequestrada e sequer sabia o motivo. Seria vingança? Mas Hades não havia participado da trama de Hera. A única certeza que Tétis tinha é que só podia ser uma coisa: a maldita profecia. Um oráculo profetizou que Tétis, a nereida, daria a Poseidon ou a Zeus um filho muito mais forte e poderoso do que o pai e que o destronaria do poder. Desde então Tétis não teve mais sossego. Todas as questões que a envolviam tinham direta ou indiretamente relação com a maldição. Havia, inclusive, quem a instigasse a ter este filho – queriam vender-lhe fantasias para ludibriar Zeus e Poseidon e assim ter as crianças ou galgar postos na escala de poder do Olimpo. Havia quem defendesse o envio da nereida para o Tártaro e invocavam para tanto o interesse público e a estabilidade do Olimpo. Enfim, havia uma infinidade de interesses e opiniões que envolviam aquela filha de Nereu, todos mesquinhos e histriônicos. Era uma maldição!
Zeus e Poseidon a evitavam, embora Zeus, sempre cauteloso, mandasse seus agentes estarem permanentemente de olho nos passos de Tétis para que ela e o deus soberano jamais se cruzassem. Tétis não tinha privacidade. Zeus não queria correr riscos, afinal de contas gostava da sensação de perigo imediato e certamente não se controlaria perto da nereida. Com efeito, Tétis, em um passado muito longínquo, deu a luz a Aquiles, um dos maiores heróis gregos de todos os tempos, o que corroborava a profecia do oráculo.
- Quando vou saber o porquê do meu sequestro? – Disse a nereida assustada com o evento, tentando demonstrar alguma dignidade.
- Sua estada aqui será breve. Quanto menos perguntas fizer, mais rápido sairá daqui. Já disse isso para a senhora. – Disse Hypnos friamente e segurando Minta em um dos braços.
- Retirem-se todos. – Disse Hades impaciente. – Thanatos, leve Tétis para os aposentos dela. Hypnos, deixe Minta aí no chão e se retire.
O humor de Hades estava cada dia pior. O inferno estava cada vez mais frio, tenebroso e vazio sem o brilho e presença de Perséfone. Não só Hades sentia falta da musa, mas também todos os subordinados. Os julgamentos realizados pelos três juízes do Inferno voltaram a ser extremamente técnicos e desprovidos de sensibilidade. Frequentemente Perséfone assistia alguns julgamentos. Às vezes intervia e participava ativamente de algumas sessões. Apesar de não conhecer as regras processuais e as dos códigos que os juízes Minos, Eáco e Radamantho usavam, opinava seguindo aquilo que o coração julgava ser correto. Buscava, sempre que podia, defender os condenados e aliviar as penas mais pesadas. Normalmente Perséfone passeava por todo o Hades para confortar as almas mais atormentadas que ali caíam. Brincava com Cérbero. Aplacava a ira das “Queres” – seres alados, com aspecto horrendo, possuindo grandes caninos e unhas aduncas – e maquiava as fúrias, tornando-as um pouco femininas; dando-lhes a vaidade que parecia impossível. Eram gestos simples, mas que a todos agradavam. Era uma entidade muito querida em todo o reino de Hades, que trazia paz e beleza ao coração daquelas criaturas condenadas a vagarem eternamente por aquele lugar imenso e sem fim, sem qualquer desígnio, finalidade ou utilidade. No Olimpo dizia-se que o Hades, inferno grego, era um lixão de almas abençoado por Perséfone.
Minutos depois Minta acordou. Levantou a cabeça. Diante dela viu Hades, sozinho, fitando-a atento.
Antes de Perséfone, Minta era a rainha do submundo. Quando a deusa chegou no submundo, mesmo a contra gosto, porque afinal de contas havia sido raptada, tratou de por ordem na casa. Se Hades havia raptado a deusa para fazê-la esposa e com isso ofendido Deméter, Perséfone imporia suas regras (quem quer o bônus deve suportar o ônus). Intimou Minta que não admitiria amantes no submundo e que se continuasse com o comportamento inadequado seria severamente punida.
- Se não quiser ter problemas, volte para o rio Cócito e fique lá para sempre. – Disse Perséfone taxativamente.
Minta ficou descontrolada. Apesar de não encarar Perséfone de frente, não porque era covarde, mas porque não tinha a mínima chance de derrotar uma deusa em combate aberto, iniciou uma campanha de desqualificação de Perséfone entre todos os membros próximos ao imperador. Inclusive Hades era vítima das insinuações e palavras vagas de Minta tendentes a ridicularizar Perséfone. Minta se dizia a mais bela, sexy e sensual. A ninfa do Cócito lutaria até o fim para ser reconhecida como a esposa de Hades e expulsar Perséfone daquele lugar. Faria de tudo! Infelizmente, a ninfa perdeu a batalha. Perséfone perdeu a paciência com as atitudes cada vez mais grosseiras e escandalosas de Minta – esta já estava desesperada ao ver que todos os esforços empreendidos e planos elaborados eram em vão – e a transformou em uma planta de menta. E assim Minta ficou por milhares de anos.
Minta rastejou até os pés do soberano e com os olhos marejados perguntou:
- Por favor, diga-me que isso não é verdade? Eu te amo. Eu mereço um pouco de consideração. – Lamentou indefesa.
Hades estendeu a mão, que foi imediatamente beijada por Minta.
- Levante-se. – Ordenou Hades olhando diretamente para a beldade caída.
Minta ergueu-se e imediatamente sentou-se no colo do soberano do submundo. Beijo-o carinhosamente várias vezes. Estava tão linda… A expressão facial languida e frágil, os olhos brilhantes e marejados, os belos braços envoltos no pescoço de Hades, os fartos seios bem próximos do rosto do deus, as duas coxas bem torneadas sobre o manto negro do soberano, faziam o deus se lembrar da amada Perséfone. O perfume da ninfa também o agradava, embora não tivesse qualquer relação com Perséfone, o que o trazia de volta à realidade. Hades gostava de Minta, não como esposa, tão pouco como amante ou namorada, mas admirava a intensidade daquele ser tão frágil. Ela lutava com unhas e dentes por aquilo que queria e que não tinha direito: ser a rainha de Hades. E para a ninfa do Cócito, os meios justificavam os fins. É claro que ela apenas queria status, o que tornava a pretensão da moça menos legítima, mas ainda assim aquela explosão de sentimentos causava admiração em Hades. Ora ria, ora chorava, ora gritava, ora dava. Enfim, fazia tudo o que vinha à mente para alcançar o objetivo e não tinha vergonha de nada. A garota seria apaixonante, não fosse Perséfone. Minta não seria uma boa esposa, companheira ou mãe, muito menos uma grande rainha. Faltava-lhe bom senso e solidariedade. Minta só pensava nela, não seria uma boa governante. Não tinha modos e sempre causaria constrangimentos.
Hades acariciou a ninfa, ora fraternalmente, ora lascivamente. Não tinha dúvidas. Precisava de Perséfone. Minta não o faria feliz. O plano continuaria, pois. Perséfone voltaria para o coração do Inferno a qualquer preço, Tétis continuaria ali até sua utilidade cessar e Minta, bom, o imperador não sabia o que fazer com ela nem como controlá-la depois que a ex-esposa estivesse de volta. E naquele momento não tinha coragem de punir aquele belo ser como fez Perséfone. Estava carente, muito carente. O corpo de Minta era muito semelhante ao de Perséfone. Às vezes a desejava, às vezes a repudiava. Ora a imagem de Perséfone se sobrepunha a de Minta na retina de Hades, ora a ninfa era apenas uma gostosa encrenqueira, que tirava Hades do pesadelo da solidão, embora isso causasse certa irritação também. Era difícil lidar com Minta. Era uma criatura muito espontânea.
Minta se aproximava cada vez mais do corpo de Hades, até ambos estarem completamente unidos. Depois de muitas carícias, da troca de bafos quentes e de alguns beijos tórridos, Minta se ajeitou no colo de Hades. Tirou o manto preto do soberano. Desabotoou-lhes as calças e tirou o pênis do deus para fora. Hades estava excitado. Minta envolveu o deus com as pernas. Levantou a minissaia que vestia e fez o deus entrar nela. Envolveu a cabeça do imperador com os braços e o fez chupar os belos seios, cujos mamilos delicados eram esverdeados. E assim fizeram sexo, no trono de Hades. Depois da segunda gozada, Minta sussurrou no ouvido de Hades:
- Você é meu. Eu serei sua rainha. Entendeu? Meeeeeeeeeeeu! – Disse pretensiosa, esquecendo-se que Hades não admitia condições ou imposições.
A ninfa cavalgava Hades, sorria triunfante, estava dando aquilo que o deus queria e precisava; em troca teria o trono.
Hades, não gostou daquela confiança repentina e irritante da parceira, pegou a moça pelas nádegas:
- Humm. – Gemeu Minta, certa do êxito.
Hades levantando-a levemente, trouxe a ninfa para mais junto de si e a puxou para baixo com força total.
- Aaaaaaaaaah!!!
Minta, em face da dor horrível que sentia, tentou se desvencilhar do deus, mas não conseguiu. Ele era muito forte e estava metendo com mais força. O desgraçado já estava de pé. Depois de muitos gritos, dores, retorções, choro, Hades havia ejaculado. Largou Minta no chão, debatendo-se de dor. O soberano então se sentou novamente e olhou para o nada, como se nada de anormal houvesse acontecido. Quando Hades olhava para a frente, sem focalizar um ponto especifico, estava matutando, pensando em alguma coisa importante para os próprios interesses ou para o interesse do Inferno ou, então, e o mais provável estava pensando em Perséfone.
Minta aos poucos se levantou. A dor já estava diminuindo. Olhou para o violador e disse indignada:
- Filho da puta! Dá próxima vez usa lubrificante. – Ordenou extremamente transtornada. Hades a ignorou.
A ninfa saiu mancando do salão, mas estava satisfeita. Pelo menos não fora transformada em planta de menta novamente, morta ou jogada no Tártaro e ainda sentia que tinha livre acesso no reino de Hades. Era necessária ali naquela morada. Poderia descobrir o que acontecia e quem era aquela puta que vira antes de ser vítima do poder de Hypnos. Não desistiria de seu sonho.
CONTINUA…
