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Hades, Asclépio, Minta, Perséfone, Deméter, Ares – 24.08.06 – A nova teogonia -19ª parte

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VIDE CAPÍTULO 18

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06.11.08

- Os exames de ultrassom indicam que a concepção foi realizada com êxito. Tétis, pés de prata, está grávida, senhor. – Disse satisfeito Asclépio a Hades.

O plano estava dando certo. Asclépio sentia-se satisfeito. Enfim, estava tendo uma vida digna, apesar da aparência repugnante e das dores excruciantes que só poderiam ser reparadas se Zeus, o responsável por aquela vida trágica, fosse encarcerado no Tártaro. A felicidade finalmente o acolheu. Sentia que fazia parte de algo especial. A vingança contra Zeus, aquela que sempre sonhou em realizar, estava cada vez mais próxima. O plano obteria sucesso! Finalmente ele sairia das sombras para ocupar o lugar que era seu de direito: o mais elevado, ao lado do pai Apolo. Queria muito ver aquele que lhe dera origem. Contaram-lhe que Apolo, após saber o que Zeus havia feito com o filho mais genial do deus sol, matou todos os Ciclopes urânios (Arges, Brontes e Estéropes), aliados de Zeus, aqueles mesmos que haviam guerreado na titanomaquia. Os ciclopes confeccionavam as armas de Zeus e do exército do Olimpo, sendo de crucial importância para preponderância do deus no panteão grego e sobre outros panteões; Zeus tinha uma dívida de gratidão com esses seres especializados em fabricar armas: eles haviam, como já dito, ajudado os deuses olímpicos a destronarem os titãs do poder. Asclépio ficou orgulhoso da atitude do pai. Sim, Asclépio valia tudo isso, aliás, valia muito mais, qualquer sacrifício era pouco para ele. Não era qualquer deus. E a punição imposta a Apolo pela matança de Ciclopes também seria vingada por Asclépio – o deus sol, após a morte dos ferreiros de Zeus, foi exilado em Feres, na corte do rei Admeto, a quem serviu como pastor, durante um ano. Quer ofensa maior para um imortal ser obrigado a trabalhar para um mero mortal? Blasfêmia! Zeus pagaria por todos os crimes e o faria com juros composto capitalizados mensalmente e correção monetária de quinze mil anos.

Hades sorriu, o que era raro. Minta, sentada no trono ao lado de Hades, alheia aos planos do imperador e de Asclépio, ficou estupefata. Fazia dias que não via a cadela. Achava que Tétis tivesse ido embora e que a razão houvesse voltado à mente de Hades, afinal de contas Minta era um espetáculo de ninfa.

ninfa minta sexy

- Um filho?! – Disse a ninfa com os olhos arregalados. – Você está louco Hades?! Eu é que devo ser sua esposa. – Dizia Minta dramaticamente. Estava estarrecida – Sempre lutei por isso e é assim que você me trata, seu cachorro?

De novo não. O sorriso deixou a face de Hades.

- SILÊNCIO!!! – Berrou impaciente o soberano.

Minta assustou-se. Sem saber o que dizer ou o que falar, lacrimejando, saiu da sala correndo, não queria ser punida novamente. O que seria agora? Tétis viria a ser a nova rainha do Hades, o inferno grego? Minta seria preterida novamente? Não, não, estava certo! Um filho?! Continuar na condição de puta de Hades para sempre? Por que ele fazia isso com ela?

Asclépio pouco se importou com a cena. Estava focado única e exclusivamente no plano. Frieza total. Já se acostumara ao comportamento escalafobético da ninfa. Retirou-se do salão de Hades também. Cuidaria das outras vertentes do plano, zelaria para que ele continuasse sendo executado de forma perfeita e sem erros, e, no futuro, quem sabe, depois que Perséfone retornasse, Minta poderia ser dele, aliás… ela seria dele. Ria safado quando imaginava ele todo queimado e deformado casando com aquela ninfa de corpo perfeito.

- Thanatos, Hypnos, preparem a solenidade. – Ordenou Hades – Em breve o mundo saberá quem é a nova esposa de Hades e que este terá o primeiro sucessor. – Disse imponente, levantando-se do trono. Lembrou-se do rosto de linhas delicadas de Perséfone, dos lábios delicados da moça, dos seios perfeitos e igualmente delicados da diva. Estava fazendo tudo aquilo por ela.

Minta ouviu horrorizada aquela frase: nova esposa? Quis desmaiar. Sim, seus medos estavam se tornando realidade. O maior medo da moça estava se concretizando, ali e não havia nada que ela pudesse fazer. Um sentimento de impotência horrível tomou conta da moça. Hades havia tomado a sua decisão. Casaria-se com Tétis, a nereida. Rejeitara-a mais uma vez. Traidor! TRAIDOR!

Dias depois, o castelo de Hades foi preparado para o casamento e para o anúncio oficial da gravidez de Tétis, a nereida. O evento foi amplamente divulgado por todos os mundos e os convites encaminhados. Seria uma festa gloriosa, monumental, maior que qualquer comemoração promovida pelo Olimpo. Uma grande demonstração de força e poder. Hades sabia que Zeus estava com problemas no Olimpo e que teria problemas com Asgard em breve. Havia um espião no Olimpo com amplo acesso àquela montanha sagrada, era o melhor dos espiões, embora, em alguns momentos, fosse também o pior. O agente sombrio informava tudo o que ocorria no Olimpo. Hades, inclusive, sabia dos planos e movimentações dúbias de Ísis e dos acontecimentos durante a visita de Freya, bem como do ódio mortal de Hera. Mais alguns trunfos para a sua causa. Quanto mais desorganizado e cretino o Olimpo estivesse, mais fraco estaria e maiores as chances da cruzada de Hades ter sucesso. E para garantir tal sucesso Hades se desdobrava para angariar novos aliados e planejava adquirir o maior que poderia ter naquele momento: Poseidon.

neptune POSEIDON

Perséfone, ao saber da notícia do casamento do ex-consorte, caiu em prantos, esmoreceu. O vazio inundou o coração da dama da primavera. Hades a esqueceu… O desgraçado já tinha outra. Toda aquela história de amor incondicional? Quinze mil anos de casamento e fidelidade (salvo Adônis de Perséfone, é claro, mas como ele era muito bonito e gostoso, um gatinho, não se podia considerar uma traição e sim um dever para com o bem estar e autoestima próprios) jogados no lixo. Hades disse que ela sempre foi e sempre seria a única, não importaria em que circunstâncias, o hipócrita declarava o amor incondicional de joelhos. O cafajeste beijava-lhes os pés e a elogiava exaustivamente. Mas desde que houve a ruptura, o maldito não havia sequer perguntado sobre o estado de saúde da dama da primavera. O que custava pedir perdão a Zeus apenas para vê-la e tê-la de volta? Afinal de contas, ela não era a razão da vida dele? Deuses não prestam, concluiu indignada. Os olhos estavam tingidos de vermelhos e o rosto parecia uma bacia hidrográfica de tantas lágrimas que corriam aleatoriamente.

- Hades nunca te amou, querida. Eu sempre disse isso para você. – Deméter comentou no ouvido da filha. – Queria apenas as carnes que sustentam o belo corpo que possuis. – Démeter desprezava o ex-marido da filha.

Perséfone nada disse. Naquele momento pensava em como ferir o ex-consorte. Vingança feminina! Casaria com outro! Ele era ciumento. Sim, talvez isso o afetasse ou… talvez não. Fraqueza. Depressão. Tristeza. Haveria Hades mudado tanto assim? Não, não era possível, ele não seria capaz. Exaltação. Quinze mil anos de cumplicidade, melação e juras de amor e agora aquilo. Gargalhada. Foi tão rápido assim que se esqueceu dela? Se soubesse que não era amada teria saído daquela pocilga antes. Mas, as palavras melífluas dele, a companhia, a cortesia, não, alguma coisa estava errada. Confusão.

- Eu preciso ir até lá! – Disse Perséfone resoluta, esquecendo-se da vingança que começara a formular. Apesar da mágoa, ela não poderia ser mais uma a ter um comportamento destrutivo arrimado em frustrações. – Já deveria tê-lo feito antes!

- Filha, NÃO! – Exclamou Deméter desesperada. – Hades mudou e você não está em condições de ir até o submundo. Hades é só fúria e rancor. A energia negativa dele inunda todo o inferno. Você pode ter uma recaída, filha querida. Lembre-se que a maldição não foi totalmente expurgada do teu corpo e não o será pelos próximos anos. Precisamos continuar o tratamento.

- Mãe, eu preciso ir, preciso por um fim em toda essa bagunça. Não posso me omitir. Está tudo errado! Uma simples desavença não poderia ter gerado tanta confusão.

Deméter segurou a filha pelo braço.

- Mas gerou… – Disse Deméter resignada com lágrimas nos olhos.

- Solte-me! – Gritou Perséfone. Tentou se desvencilhar da mãe.

- Filha, você já está prometida a outra pessoa. Irá casar-se em breve.

Perséfone ficou estupefata.

perséfone desenhada

- Casar? Mas… mas ninguém me consultou. Eu não quero ninguém. Não estou interessada em relacionamentos. Solte-me! – Puxou o braço com força e indignada. Perséfone e Deméter não estavam na Idade Média, pombas!

- Você se casará com… Ares!

ARES_by_el_grimlock

Perséfone ficou horrorizada. Ares, o deus da guerra? Aquele que promove matanças despropositadas? O escrotão? Aquele que se banha em sangue e que não respeita ninguém? E o pior de tudo: o amante de Afrodite e de outras milhares de mulheres, ninfas e deusas, tal como Zeus e Poseidon?

- Mas… desde quando estou prometida a ele? – Perguntou ainda surpresa.

- Filha. – Deméter conteve as lágrimas e falou pausadamente. – Vingue-se de Hades. – Os olhos faiscavam. – Mostre que você não precisa dele. Faremos a maior festa da história. Ares já a aceitou em casamento. Ele é filho de Zeus e Hera… Zeus, Hera e eu o escolhemos pensando no seu melhor.

- No meu melhor? O meu melhor é um filho da puta?! – Disse surpresa e inconformada Perséfone, quase indignada.

Deméter queria se vingar de Hades e, principalmente, tê-la para si eternamente. Para tanto, casaria a filha e dentre as opções que tinha, considerando a recusa de Zeus em dar a filha em casamento para um deus estrangeiro, escolheu Ares. Para Deméter, Ares, filho de Zeus e Hera, apesar de ser escroto e mal visto por todo o panteão grego, possuía legitimidade para algum dia assumir o posto do soberano máximo. Neste critério, estaria à frente de Apolo, Ártemis e Atena e todos os outros filhos bastardos de Zeus ou de filhos com ex-esposas. Hefesto, Ilítia e Hebe, apesar de filhos do Rei e da Rainha do Olimpo, eram muito fracos politicamente; não bastasse isso, com a ajuda de Deméter, a grande influência que exercia sobre Zeus, e o charme natural de Perséfone, Ares estaria a frente de todos em uma possível sucessão do trono de Zeus. Além disso, Deméter sabia que Ares seria um marido ausente e que não faria falta ou atrapalharia o relacionamento de mãe e filha. Deméter teria a filha integralmente para si, como sempre desejou. Por fim, Perséfone estaria sob a tutela de Zeus e Hera, as duas divindades mais importantes do Olimpo. Hera pretendia, com o casório, dar um jeito no filho imbecil, embora duvidasse que conseguiria atingir este escopo, e acabar com a graça de Afrodite que se unia frequentemente a Ares, embora não esperasse que isso realmente ocorresse também. Além disso, e este era o maior interesse da rainha do Olimpo, Hera pretendia agradar o filho e ter ao lado um forte aliado no levante que tramava contra o marido. Por fim, Zeus aceitou a indicação de Ares por Deméter, porque lhe era indiferente com quem Ares ou Perséfone se casassem, desde que não fosse com uma entidade estrangeira. Não aceitaria interferências externas. Não queria ingerências externas. Já pensou se o viadinho do Balder II começasse a se meter nos rumos do Olimpo dizendo o que é moral e o que não é? E o idiota megalomaníaco do Hórus? Zeus tremia só de pensar.

Nos dias que antecederam os preparativos para o casamento de Hades e Tétis, Minta, disposta a descobrir tudo o que estava acontecendo e de se vingar de Hades, aguardava Asclépio nua dentro do dormitório do deus da medicina; deitada sobre a cama. Sabia que Asclépio admirava sua beleza, que a desejava e que há milênios não possuía uma bela ninfa entre os braços e isso era motivo suficiente para que pudesse manobrar com sucesso o pau do alvo. Por mais que aquela criatura lhe causasse repulsa, asco, nojo e vergonha, a ninfa do Cócito estava disposta a descobrir tudo o que estava acontecendo; estava obstinada. Hades haveria de ver o quão longe uma ninfa rejeitada poderia chegar. Depois acabaria com aquela criatura asquerosa e deformada, jogando a no Tártaro e, dependendo do que viesse a saber, tomaria sua decisão: chantagearia Hades ou entregaria os planos do ex-amante para Zeus. Talvez conseguisse algum lugarzinho no Olimpo ou algum deus idiota para bancá-la.

Asclépio ao entrar no aposento viu, deslumbrado o belo corpo nu de Minta, esqueceu-se por um segundo das dores lancinantes que sentia desde que fora fulminado por Zeus. O quarto estava carregado de essências afrodisíacas. Minta mirava o dono do aposento. Estava séria, sexy e provocativa, esforçando para não demonstrar nenhum sinal de aversão. Poucos resistiam àquele olhar. Nem mesmo Hades, com todo seu poder negativo, podia ignorá-lo. Asclépio sorriu confiante. Apreciou o máximo que pode aquele corpo escultural; sabia o que Minta pretendia:

- Você será minha Minta, mas não hoje. Retire-se imediatamente do meu quarto. – Disse dando as costas para Minta. Riu para não chorar.

A cara de Minta caiu.

- O quê? – Riu nervosa. – Você está louco?! Olhe para o meu corpo. Todos me desejam. Você é… homos…

Asclépio respirou fundo e disse sarcástico:

- Sim, é um belo corpo, porém sou um macho sem alma. – Virou novamente para Minta e abaixou as calças. Faltava-lhe um órgão; aquele órgão. – Vê, eu não tenho pinto. – A voz de Asclépio embargou. – Zeus acabou com minha virilidade, acabou com tudo. – Asclépio queria chorar, mas não conseguia produzir lágrimas. – O raio de Zeus foi tão forte que acabou com todo o meu corpo; destruiu meu pau. – O rosto que já era deformado, ficou mais feio ainda, pois transmitia dor e desespero – Não posso mais foder, as mulheres não me querem, riem de mim, muitos fizeram piadinhas sobre minha condição. – Asclépio se aproximou de Minta. – Imagine você sem a sua beleza e sensualidade, – falou em tom ameaçador – isso é o mesmo que um macho sem um pênis e já estou assim há milhares de anos. – Os olhos de Asclépio eram, agora, pura fúria. Minta levantou-se apavorada e pegou as roupas que havia jogado no chão. – Não posso gozar, não posso me apaixonar, não posso me divertir, nem mesmo bater umazinha. Nem mesmo posso ser feito de trouxa por uma ninfa fútil, simplesmente porque não tenho pau! – Estava com raiva. Asclépio subiu na cama com muita dificuldade. Minta, tomada pelo medo, ao ver a cena deprimente, também foi tomada por um célere sentimento de piedade. – Não, de mim você não vai conseguir nada, sua puta, agora fora daqui sua cadela interesseira, antes que eu conte para Hades o que você fez.

Minta saiu correndo assustada daquele quarto. Fracassara mais uma vez. Agora estava nas mãos de Asclépio, um ser que não podia ser seduzido pelas vias tradicionais, que era puro ódio, mágoa e ressentimento. Cujo único objetivo era derrubar Zeus. Estava cego. O que seria dela?

CONTINUA…



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