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Hades, Perséfone, Zeus, Atena, Tétis, Hermes, Éris, Despina – 24.08.06 – A nova teogonia – 20ª parte

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VIDE 19ª PARTE

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14/11/08

Chegou o dia do casamento de Hades com Tétis, ocasião em que foi anunciado oficialmente que o rei do submundo aguardava o nascimento do primeiro filho.

Os deuses da morte e do sono organizaram a solenidade, os juízes de Hades receberam os convidados, Minta foi colocada como uma garçonete – e não é preciso dizer que ela se sentiu humilhada -, as fúrias, Despina e Éris manobravam a massa de telespectadores em frente ao palácio de Hades, mais especificamente nos jardins daquele templo, onde seria a grande festança após a cerimônia. Nestes jardins haviam milhões, de almas mortas, guerreiros caídos, queres, trolls, demônios asuras, ninfas do Cócito e dos Campos Elíseos disputando espaço entre si. Enfim, todos os habitantes dos infernos haviam sido convidados e estavam vestidos a caráter: roupa preta. Gaia, Despina, Nix, Ponto também estavam lá. Hela, a deusa do inferno nórdico, expulsa de Asgard por Odin, compareceu. Osíris, o deus do inferno egípcio, mandou um representante, Anúbis. Um representante dos demônios asuras, descendente de Ravana, também se fez presente na solenidade. Hermes fez às vezes do Olimpo. Ele daria as “boas” novas para Zeus. Faria a vontade de Hades. Certamente diria que o inferno havia se transformado em baluarte inexpugnável e que Hades possuía muitos aliados. A descrição de Hermes, o deus mensageiro, transmitiria medo e discórdia para o Olimpo. E Hermes contaria sobre a criança de Hades. Obviamente, Hermes só falaria aquilo que conseguiria ver, pois Thanatos estaria sempre ao seu lado, direcionando seus olhares e sua percepção. Segredos militares, políticos e do “plano” não seriam revelados. Hades apenas queria demonstrar poder, mas não os detalhes de sua força. Queria mostrar que ainda se ressentia muito por não ter Perséfone do lado, pelo raio que o havia atingindo, pelo banimento do Olimpo e que estava disposto a levar a querela até as últimas consequências.

Hermes foi hostilizado por muitos, mas como estava escoltado pelo deus da morte, não houve maiores atritos, apenas alguns xingamentos como “filho da puta”, “pau mandado”, “vou arrancar as suas asinhas veado”, “bastardo” e etc. Mas a personalidade que mais chamou a atenção no evento foi Poseidon. A presença dele fez Hermes e o Olimpo tremerem. Com efeito, havia muitos espiões do Olimpo vigiando todas as entradas do Hades, número que dobrou depois que houve a divulgação do casamento do soberano do submundo grego. Os vigias informavam em tempo real quem estava entrando na festa, quem eram os aliados ou pretensos aliados de Hades.

hermes DEUS HERMES

Poseidon!!!!! Não, não podia ser apenas um convite. Será que Poseidon estaria se aliando à Hades? Ele havia traído o Olimpo? O que Gaia estava fazendo ali? Nix?! Anúbis?! Hades não estava sozinho. O que planejava? E Tétis? O que ele pretendia com ela? Casar-se?! Não fazia sentido! E a profecia? Hades havia se esquecido de Perséfone?

Eram as perguntas feitas por todos os habitantes do Olimpo, principalmente por Zeus.

No templo de Zeus, Atena alertou o pai:

- Logo virá uma guerra, pai. – Atena era muito sincera e, por isso, acabava falando muitas vezes coisas óbvias. – Hades angariou muitos aliados e conseguiu esconder de mim e de Hefesto o paradeiro de Tétis. Eu e deus ferreiro ficamos quase três meses procurando pela nereida de pés prateados e em momento algum nossas buscas nos levaram ao Hades. – Disse a deusa de olhar sempre atento.

atena e zeus

- A profecia, a profecia. – Disse Zeus reflexivo em tom de voz baixo. – A resposta só pode estar aí. Ele está de alguma forma querendo nos derrubar ou preocupar. Talvez esteja fazendo uma guerra psicológica usando a profecia acerca de Tétis.

- Não vejo como, pai, mas também sinto que a profecia realmente está por trás de tudo isso. A equação não está fechando. – Disse reflexiva e irritada Atena. Para ela, conhecida como a deusa da sabedoria, era frustrante não saber o que acontecia.  – Hades e Tétis nunca se viram pessoalmente, não tinham qualquer afeição um pelo outro. O sumiço repentino da nereida, que sempre foi nossa aliada, desde os tempos mitológicos, é realmente muito estranho. Talvez ele queira um filho forte e poderoso apenas, pois a nereida em questão sempre deu a luz a prodígios.

- A profecia sobre Tétis não se aplica a ele, logo sei que eventual filho de Hades não o derrubará do poder, que ele não perderá o poder, mas ainda assim isso tudo não faz sentido. Realmente, a hipótese de se querer uma prole poderosa e que lute ao lado dele é sustentável, mas tem pouca chance de êxito. Tive tantos filhos e a maioria deles me desapontou ou não teve qualquer relevância para o destino do universo. Seria temerário esperar que um filho tido com Tétis o ajudaria ou seria seu fiel seguidor. Hades é sábio e não se vale da sorte para agir, não daria um tiro no escuro. Ademais, se, por algum motivo ignorado, a profecia se aplicasse a Hades também, meu irmão estaria perdido. Renunciaria o poder, dessa forma, arriscando-se às cegas?  – Perguntou Zeus para si próprio em voz alta. A sucessão de poder causava estranheza no deus supremo. Não entendia como alguém poderia abrir mão do poder.

- Pelo menos sabemos onde está Tétis. – Observou Atena. – Com ela ao lado de Hades, não haverá mais perigo de se concretizar a profecia no que toca ao senhor, pai, e a Poseidon. – Observou racionalmente a deusa, um pouco enojada quando se referiu a Poseidon.

- Não haverá mais perigo? – Perguntou Zeus perplexo, apreciando a inocência da filha. Seria ela a deusa da sabedoria mesmo? – Precisamos ouvir os relatos de Hermes e depois visitar o Oráculo de Delfos para entendermos exatamente o que está acontecendo. O que se passa pela mente do meu irmão.

A solenidade foi longa e cansativa, como todo casamento. Tétis fora muito pressionada no palácio de Hades antes da cerimônia de casamento. Asclépio a mantinha permanentemente drogada e o motivo para tal atitude era óbvio: na hora da solenidade que marcaria a história, Tétis não poderia causar qualquer empecilho. Com efeito, e para se resguardar de qualquer risco, Tétis não poderia falar nada além do necessário durante a cerimônia, ou seja, deveria limitar-se à expressão “sim”. Além de drogada, ameaçada e sujeita à aura negativa de Hades, poder que tolhia a coragem dos que a tinham, Hypnos estaria sempre perto para silenciá-la imediatamente caso ela causasse algum constrangimento ou caso desse algum motivo para anular a cerimônia de casamento. Isso porque Himeneu, o deus responsável pela cerimônia, apesar de ser de fácil trato, justo e bondoso, era extremamente severo no que dizia respeito ao ato nupcial; seguia rigorosamente todos os trâmites da cerimônia até o ato final que lhe incumbia: declarar os nubentes casados. Himeneu observava tão estreitamente os ritos que nem mesmo a ameaça de tomar um raio de Zeus na fuça esmoreceria sua determinação em cumprir os trâmites sagrados. Ele já havia remarcado inúmeras cerimônias de casamento, pois era muito comum que os nubentes masculinos na hora de dizer “sim” de maneira séria, firme, peremptória, de forma a não deixar margem ou sombra de dúvida, fizessem brincadeirinhas como “acho que sim”, “sim, né? rsrsrsrs” “Preciso pensar”,”não! Brincadeirinha, te peguei, hein? Sim! Não, não precisa chorar, foi só uma brincadeira, eu te amo”. Himeneu não tolerava brincadeirinhas, casamento era coisa séria… pelo menos a cerimônia. Talvez por isso, aquele deus do casamento, apesar de não ser um expoente máximo do matrimônio, como Hera ou Friga, tinha o condão de dar legitimidade àquele casório, visto ser um exímio ritualista, versado em todos os tipos de cerimônia que existiam no mundo.

Toda a cautela surtiu efeito. O casamento foi realizado com sucesso. Algumas lágrimas corriam dos olhos de Alecto, o que causou espanto nas duas irmãs, Megera e Tisífone, apesar de já saberem que a irmã líder das fúrias amava o soberano do inferno. Achavam que Alecto já houvesse parado de sonhar em ser a esposa querida de Hades. Com o presente casamento, com Perséfone sobre o coração do deus e com Minta pendurado nele tentando não cair, Alecto jamais teria chances, pois estava sob o órgão cardíaco de Hades, sendo que um abismo a separava dele, era vista pelo soberano apenas como uma mera serviçal, feia e desagradável; como uma fúria. As Erínias, outro nome para Fúrias, eram horríveis, terríveis quando cumpriam o dever e desprovidas de qualquer encanto feminino. O destino delas era serem preteridas, ainda que amassem. Até as brutas amam…

Minta havia deixado de atender os convidados há muito tempo. Recolheu-se no aposento, sem muito luxo, que lhe foi dado e chorou copiosamente. O trono jamais seria dela… Antes fosse uma planta do que passar por toda aquela humilhação.

Após o último ato oficial da solenidade, Hades, já casado e fora do palácio, diante de todos aqueles convidados e da multidão ansiosa, fez um breve discurso flutuando sobre o parlatório improvisado:

Hades

- Amigos, irmãos, cidadãos, servos, escravos, deuses, demônios, espíritos, trolls, fúrias e demais criaturas, quero agradecer a presença de todos! – A voz burocrática do deus, por alguma arte mágica, ressoava por todo o Hades, chegando a todos os ouvidos daquele lugar.

Silêncio absoluto.

- Hoje não celebramos apenas uma nova união, hoje celebramos também o inicio da gestação do meu PRIMEIRO HERDEIRO! – Disse de forma rápida e objetiva, o deus que não gostava de muito blá blá blá. Se fosse Zeus a discursar, este primeiro trecho do discurso seria estendido por cerca de meia hora.

- Oh!!! – Exclamou a massa que assistia o anúncio de Hades. De fato, a notícia do primeiro filho de Hades ainda não havia sido amplamente ventilada. Até então havia ficado restrita aos habitantes do palácio do Hades.

- Sim! Trevas, meu primeiro filho nascerá dentro de nove meses. – Bradou imponente o líder tenebroso.

A multidão explodiu de alegria. Fogos de artifício foram lançados no céu negro avermelhado do Hades. Trinta minutos de intenso fogaréu. Nunca o Hades havia ficado tão colorido. O céu das profundezas estava vermelho, preto e branco; tricolor. A combinação de cores mais bela que há.

- Trevas, Trevas, Trevas. – Cantavam, como mantra ou como uma runa, todos os milhões de convidados.

- Hoje também celebramos o surgimento e a consolidação de uma nova potência, autônoma, plural e livre de quaisquer influências de quem quer que seja, O HADES!  – Hades clamou de forma energética e desafiadora, como se este trecho fosse o mais importante de todos e não o fato de ter casado minutos atrás ou de ser pai pela primeira vez.

-Yeah!!!!!!!!!! – Um grande clamor popular se ouviu em todo o Hades. A multidão vibrante movia-se em grandes ondas, como se fosse um mar ardente, revoltoso e negro. – Hades, Hades, Hades.

- Cidadãos do Hades e de outros submundos, não aceitaremos mais viver às sombras do Olimpo nem de deuses celestes! Não mais nos submeteremos a ordens de ditadores, não nos submeteremos mais a Zeus!!!! – Desde a briga entre Hades e Zeus, o ódio do imperador que tomou conta daquele ambiente, o incremento militar do inferno, a formação de novas alianças e a falta da doce Perséfone uniram-se ao sentimento de inferioridade que acometia aquela população subterrânea, ctónica, isenta de luz e sempre associada à morte e à maldade, desde longa data. Com efeito, os cidadãos do submundo eram sempre vistos de forma negativa, associados à tristeza e sentimentos ruins, embora não fossem maus. E tal fama sombria só aumentou com o advento do cristianismo na Terra. Na verdade, os seres ctónicos eram tão maus ou bons quanto qualquer outra criatura em qualquer outro mundo, apenas foram agraciados pelo azar ao nascerem ou acabarem naquela região sem brilho. – SOMOS CTÓNICOS!!!!

- Yeah!!!!! – A multidão gritava ensandecida.

– Morte a Zeus! – Alguns gritavam.

- Zeus vai cair! – Gritavam outros.

- Envia o raio no cu! – Gritavam os espíritos mais exaltados.

- Hermes, otário, você vai morrer!!! – Gritavam aqueles que viram Hermes.

Hades via a multidão em polvorosa com orgulho. Depois fitou Hermes. O recado estava dado. O deus dos mensageiros cumpriria o seu destino e daria o aviso a Zeus. O Hades fervilhava e…

- Queremos Perséfone de volta também?! – Gritou interessado um ser feminino que surgiu flutuando de dentro da multidão. Macária, a deusa da boa morte e filha adotiva de Hades e Perséfone. A deusa era bonita, porém pálida. Uma espécie de Morgana da família Adam’s. O vestido negro lhe cobria todo o corpo. Os cabelos e olhos eram negros e profundos como o universo. O silêncio propagou-se entre os milhões de criaturas de uma forma repentina. Macária era muito respeitada na região. Hades olhou para a filha adotiva e depois para a os milhões de convidados apreensivos e esperançosos. Todos queriam a volta de Perséfone.

- PERSÉFONE VOLTARÁ!!!!!! – Bradou Hades quebrando todos os protocolos. Uma intensa chama de energia negra rodeou o soberano, criando uma enorme onda de impacto sobre toda a região, derrubando milhões dos que ali estavam, com exceção dos deuses e guerreiros mais poderosos.

- Yeah!!!!!!!!!! – Multidão em polvorosa depois de se levantar do tombo. E o Hades veio a baixo depois daquela exortação. Uma grande festa estava se iniciando.

Hades observou emocionado a vastidão de seu reino e a energia que expelia a massa tresloucada de servos, aliados e almas; os olhos da divindade umedeceram. Virou-se. Porém, o olhar mudou. Olhou desafiador para Himeneu. Ai dele se anulasse o casório. Himeneu estava perplexo. Hades havia acabado de casar e já estava cobiçando o retorno da outra?! Perguntava-se o bom deus. De todo modo, Himeneu não tinha mais o que fazer, pois afinal de contas, todos os ritos sacramentais foram seguidos. A cerimônia estava formalmente perfeita. Hades e Tétis já estavam casados.

Depois Hades fitou indiferente Tétis, a nereida, que observava tudo embasbacada, sem entender e sem compreender nada do que se passava, e retirou-se. A recém esposa estava sob os efeitos de drogas e do olhar assassino de Hypnos. Mas ainda assim, ela se pergutava: quando havia ficado grávida? Ela não sabia que carregava um filho de Hades no ventre. Apesar de grogue e sem poder articular muitas palavras, pois a mente estava devastada, chorou, estava sendo violentada sem saber… Por isso Asclépio não a largava?! Por isso vivia presa e drogada?! Tétis estava em uma espécie de cárcere privado? Era implacavelmente controlada. Cada passo, cada palavra e cada respiração foram monitorados desde que ela havia chegado. O que seria dela? Onde estava o maldito Zeus? Ela que o ajudara a desbaratar a conspiração movida por Hera na era mitológica, agora estava sozinha, sem amparo?

Uma imensa festa se sucedeu ao breve, mas enfático, discurso da potência subterrânea. A comemoração iniciou-se ao som de uma valsa de Johann Strauss, Danúbio Azul, a música preferida de Hades e Perséfone,

mas depois descambou para Latino, Despedida de Solteiro.

Foram distribuídos milhares de litro de Ambrósia, Hidromel, Néctar e Soma para toda aquela massa de criaturas. Eram as comidas até então exclusivas dos deuses, o que causou espanto em muitos dos convidados divinos, incluindo Hermes, e o que fez a multidão de criaturas não divinas delirar de alegria. Era como dar caviar para pobres, com estender a mão a um órfão, como dar carinho a um homem que jamais o teve, como amar a mulher que jamais o foi. Logo imensos combates entre gladiadores, demônios asuras, queres e outras criaturas horripilantes aconteceram em palcos improvisados no meio da multidão. Diversão! A ideia de Hades era unir seu povo, tornando-o mais leal possível. Mostraria a força de uma boa administração e do amor que povo do submundo sentia, senão por ele, pela antiga rainha.

Havia apenas uma criatura consciente que estava triste e machucada naquele momento, pós discurso. Por milênios ela desejou a queda do Olimpo, de Zeus, Poseidon e Deméter. Odiava profundamente todos. E odiava principalmente Perséfone. Despina que nos últimos tempos estava de certa forma animada e empolgada, tal como Asclépio, com a possibilidade de tornar possível o sonho de vingança e com o crescente poderio de Hades, agora aliado da deusa do inverno e das geadas, ficou chateada e sombria novamente após o comentário de Éris que passava por perto da donzela do frio, filha de Poseidon e de Deméter, abandonada por ambos.

- Hades faz tudo isso por Perséfone. – E Éris, ainda deformada pelo golpe de Atena, partiu perversa para continuar com os afazeres.

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Sim, Despina havia se esquecido ou quis esquecer deste detalhe. Perséfone de novo. Despina estava destinada a ficar nas sombras da primavera enquanto a irmã patricinha brilhava e era amada por todos. Deméter era capaz de morrer, de abdicar de sua divindade perante Nix, de ser presa no Tártaro por Perséfone, mas era incapaz de reconhecer a filha que teve com Poseidon. Despina não tinha culpa que o pai, Poseidon, forçara a mãe a ter relações sexuais com ela. E mesmo assim Deméter a abandonou. A mãe era uma deusa poderosa e respeitada, extremamente bem educada e inteligente, não havia porque ter abandonado a filha. Despina era apenas um bebê. E mesmo depois de Despina, a ovelha negra da família, tomar consciência do mundo e das atitudes que se relacionavam a ela, tentando se adequar à realidade, mesmo depois de implorar à mãe que a reconhecesse, mesmo depois de tentar de todas as formas e maneiras ganhar o amor, carinho, afeto, ou ao menos o respeito, da mãe, não foi acolhida, sequer consolada. Deméter simplesmente a rejeitava. Era lhe indiferente. Onde estava o conhecido amor maternal de Deméter. Ficara todo com Perséfone? Não sobraria nada para Despina.? Despina fora abandonada e rejeitada de todas as formas possíveis e imagináveis. Deméter não conseguia mesmo ficar perto da filha ou dividir o mesmo ambiente. E não havia razão para tanta rejeição. Deméter tolerava até Poseidon e porque ela, Despina, não?

O pai, deus dos mares, também era indiferente a filha. Para ele, a divindade que regia as geadas era apenas mais uma das inúmeras filhas fruto de um desejo passageiro. Não ignorava a filha como a mãe, mas não lhe transmitia carinho nem atenção nem tempo, nem nada. Olhava para a garota como se fosse uma pessoa comum. E nem o fato de Poseidon tratar muito dos filhos que tinha desta mesma maneira concorria para diminuir o ódio que sentia pelo deus dos mares. O tempo passou e Despina, cansada da falta de assistência, da falta de um colo e da falta de respostas ou motivos para tanta negligencia, passou a odiar os pais e depois passou a odiar tudo e a todos. Sempre que podia provocava geadas e levava o frio para onde Deméter plantava e ensinava a agricultura. Despina odiava Zeus, pois ele era o dono do Olimpo e poderia usar um pouco da razão e da sabedoria que possuía para abrir os olhos de Deméter e de Poseidon. Ninguém merecia tanto desprezo e Zeus sabia disso. Por fim, odiava Perséfone pelo simples fato da moça ser amada e querida por todos. Era mimada. O pai a amava, a mãe a amava, o marido a amava. Foi raptada por amor. O amor em torno dela era tão grande que a Humanidade teria perecido por inanição se ela não fosse encontrada. O amor por ela era tão grande que Perséfone brigava de igual para igual com outras deusas do Olimpo, tal como no caso relacionado a Adônis e à Afrodite. O amor que a envolvia era tão exacerbado que estava prestes a causar uma guerra entre dois dos três pilares do Olimpo e que envolveria outros panteões. O amor rodeava Perséfone, o ódio Despina.

despina, filha de deméter e poseidon

- Maldita Éris! – Congelou alguns demônios asuras e espíritos que estavam passando por perto e voltou para seus pensamentos ora depressivos ora tomados pela fúria.

Hades havia prometido a ela que o Olimpo cairia em breve, que Deméter e provavelmente Poseidon perderiam a majestade, que ela teria muito prestígio e reconhecimento no novo Olimpo e que Perséfone ficaria no Hades, fora do caminho de Despina. Nunca mais ela seria comparada com a musa da primavera.

Após o casamento e depois de receber os convidados sozinho, pois Tétis fora encaminhada para seus aposentos (a moça estava tresloucada, confusa e boquiaberta ao saber naquele momento que estava grávida), Hades determinou que Thanatos escoltasse Hermes para fora do submundo, o que foi feito imediatamente. Chamou, então, Poseidon para conversar em uma sala particular. Há anos, talvez uns seis mil, não haviam tido uma conversa longa.

CONTINUA…



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