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Afrodite vs Hera – 24.08.06 – A nova teogonia 51ª parte

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Vide 50ª Parte

 

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OBS. ESTOU MUDANDO DE CASA, SEM INTERNET E SÃO PAULO ESTÁ UM CAOS. POR ISSO O ATRASO DESSA POSTAGEM E A FALTA DE FIGURAS. Depois coloco as figuras. NÃO VEJO A HORA DAS COISAS VOLTAREM Á NORMALIDADE… ABRAÇOS!

 

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- Finalmente vou colocá-la onde merece vagabunda! – Respondeu soberba Hera, animando-se um pouco. – Vou jogá-la no Tártaro! – A única convicção que tinha naquele momento era de que, pelo menos, com a rival acabaria. Só isso havia restado para fazer…

 

- Você prendeu Anteros no Tártaro!!!! – Ressentiu-se insana Afrodite com os punhos cerrados.

 

- Óh! – Murmúrio na plateia.

 

Afrodite lançou seus raios arroxeados sobre Hera e esta, em resposta, gargalhou, lançando, concomitantemente, centenas de raios sobre a oponente. Na breve e poderosa colisão de poderes, parte do Olimpo foi pelos ares, montanhas de partículas de terra, pedra e solo tomaram os céus, disputando lugar com a intensidade da luz branca e rosa em conflito. Muitos morreram. Templos caíram. A vegetação encontrou seu fim. Apesar de cenário caótico, as musas continuaram discutindo, alheias à destruição e ao colapso do Olimpo.

 

- A sua cria é tão imunda quanto você! Todos deviam ser jogados no Tártaro mesmo! É o que vou fazer, vadia, depois que acabar com você e sua xoxota profana! Deve estar precisando de uma cirurgia íntima aí.

 

- Minha cria sempre me deu orgulho! Diferente da sua que só lhe trouxe decepções! Nunca foi digna de dar a luz a um herdeiro de valor para Zeus! Até jogou Hefesto Olimpo abaixo decepcionada com aquilo que saiu das próprias… entranhas!

 

Hera gargalhou irônica enquanto flutuava.

 

- Você é casada com um dos meus filhos e o outro filho te fode todos os dias… que doce ironia para quem despreza minha descendência, não é mesmo, querida?!

 

Afrodite riu mais irônica ainda.

 

- Ares é um vagabundo! Não faz mais do que a obrigação em me foder todos os dias! – Gritou histérica. A plateia masculina riu, timidamente, pois tinham um pouco de inveja de Ares. – E seus filhos passam a perna um no outro. Ambos se odeiam! Essa é a sua cria… – Emendou venenosa. – Esse é seu legado para o mundo! Todos os outros filhos de Zeus são decentes e exemplos de força e poder. – Apolo sorriu orgulhoso com essa colocação de Afrodite. Se o Amor vencesse a peleja, daria algum carguinho para ela em seu reinado. Não era do tipo de deus que fazia loteamento de ministérios, pois entendia que os cargos públicos deveriam ser preenchidos com base no mérito pessoal de cada deus e não por odiosas indicações políticas, mas, para Afrodite, abriria uma exceção. Talvez abrisse o ministério do amor ou da beleza… Enfim, Apolo adorava ter o orgulho massageado.

 

Os titãs e os deuses do entorno, por seu turno, ávidos por briga, se entreolharam e se questionavam: elas vão se atracar ou vão ficar apenas se desprezando e se agredindo verbalmente como mulherzinhas comuns? Outros achavam que aquilo parecia uma disputa de rappers, que falam ou cantam um monte de coisas desconexas para diminuir ou se sobrepor ao adversário.

 

Outros ainda se lembravam de batalhas entre dançarinos, em que um faz um passo maluco para desafiar o outro, que responde com outro passo maluco, e, no final, um deles ganha por aclamação daqueles que estão assistindo a disputa, mesmo ausente qualquer critério técnico para se estabelecer qual foi o melhor passo.

 

 

- Testículo ambulante!

 

- Chifruda!

 

- Puta arrombada! Sem o cinto mágico você é uma deusa normal. Seu cinto é como uma maquiagem ou uma cirurgia plástica! Torna qualquer uma bonita. Você não tem méritos algum!

 

- O quê? Eu ouvi bem? Quem vinha pedir meu cinto “maquiagem” da beleza para conquistar o marido, hein tribufu?! E respeite a puta, pois a prostituição é um mero reflexo da decadência de uma sociedade. As prostitutas são mulheres desfavorecidas! Não nasceram em berço de ouro. Não há nada de indigno no que fazem, porque o fazem por necessidade!

 

- Prostituta decadente! Nada justifica a venda de sexo. Se querem se sustentar e progredir, que trabalhem, oras! Uma deusa que não se dá o valor é uma lástima… Continue mostrando a bunda para todos sem qualquer vergonha ou pudor! Machista! No dia que enfeiar, verás como os que te admiram hoje irão te tratar.

 

- Quem é você para dizer se uma deusa é machista ou não?! Sua opinião vale mais do que as outras?! Ah, nem sei por qual razão pergunto isso para uma arrogante, só sei que quem ganhou o título de mais bela do universo foi eu, euzinha. E eu faço o que bem entender. Faço com minha liberdade o que quiser! Se mostro os peitos e a bunda, o problema é meu! Não tenho que sofrer sanção moral de nenhuma recalcada! Dá um beijinho no meu ombro!

 

 

- Um mortalzinho de merda sabe lá o que é beleza?! – Gargalhou. – Acho que nem preciso te dizer o que fazer com o pomo da discórdia, né, “querida”? E isso, abuse de sua liberdade! Seja vista como um mero objeto sexual. Desmoralize o sexo feminino mesmo! Banalize o sexo!

 

- Invejosa! Você só tem peito! E pare com essa guerra dos sexos! Ninguém te deu uma procuração para falar pelo sexo feminino como se ele fosse um ser homogêneo. Pouco me importo com os que os outros pensam. E se alguém aqui desmoraliza não só o sexo feminino, mas, também, todos os seres vivos, é você e sua politicagem e intrigas palacianas sem limites.

 

Hades, ao perceber que aquela “luta” seria longa, cansativa e que não lhe interessava em nada, pois não gostava de barracos, foi atrás de Perséfone. Estava acompanhado de Cérbero, que gania muito desde que chegara ao local. Sentia o tênue perfume de Perséfone por todos os cantos do Olimpo, mas não conseguia saber onde a deusa da primavera se encontrava, em razão do choque de forças das musas do Olimpo, que criava um grande alvoroço no ar olímpico. Correntes de ar iam e vinham, sem qualquer previsibilidade. Todos os cheiros do Olimpo estavam dispersos e misturados. Cérbero se sentia impotente…

 

O soberano ctônico, prudente que era, havia deixado Idunna e Tétis, a nereida, com os guardas que os acompanharam durante a viagem. Queria se livrar de Idunna, para evitar que os deuses nórdicos lhe causassem problemas no futuro, e a deu em casamento para Loki, que estava na “seca” depois de milênios enterrado sob metros cúbicos de gelo, e que durante a viagem cobiçou a beleza da deusa incessantemente. “Ele que segure essa bomba”, pensava Hades indiferente.

 

A essa altura, Afrodite e Hera, finalmente, engalfinharam-se, fisicamente falando. Uma puxou o cabelo da outra.

 

 

As roupas se rasgaram pela pressão dos divinos corpos das musas em conflito. Ora um seio saltava da sagrada vestimenta de Hera, ora um trecho de uma das gloriosas coxas divinas de Afrodite ficava em evidência. A plateia masculina, em máxima atenção e abobalhada como de praxe, depois de um longo período entediada, ouvindo ambas apenas discutirem e se ofenderem mutuamente, torcia para que elas ficassem suadas logo de forma que suas roupas ficassem transparentes. Mas tiveram mais do que isso! A luta corpo a corpo acabou completamente com os trajes das beldades e ambas ficaram totalmente nuas. Todos esticavam os pescoços para ver as posições reveladoras. Alguns preferiam o corpo proporcional de Afrodite. Outros preferiam os peitões da ex-esposa de Zeus, deusa do casamento e da fidelidade. O conservadorismo notório de Hera e o fato de ser a esposa, ou ex-esposa, de Zeus contribuía para que ela fosse, durante aquela luta, tão desejada quanto Afrodite. Era um sexy-appel a mais. Alguns se abaixavam, outros esticavam o pescoço, para verem, com nítidos detalhes, as posições mais reveladoras da luta.

 

Entretanto, as criaturas masculinas menos poderosas que ali ainda teimavam em estar se deram mal, pois Hera os fustigava enquanto lutava. A danada não toleraria que seu corpo nu fosse visto por olhos mundanos. Matava quem podia. Um raiozinho bastava para destruir alguns curiosos. Mesmo na luta mais importante e desesperadora da sua vida, mantinha o pudor. Prometeu a si mesma acabar com todos aqueles que viram seu belo corpo pelado. Afrodite, por outro lado, não se importava com isso. Acreditava que o belo sexo deveria ser mostrado e que Hera não passava de uma “feminazi”.

 

A luta caminhou e ambas conseguiram se desvencilhar depois de vários minutos de pancadaria, puxões de cabelo, mordidas e etc. Era uma luta pouco técnica e muito desgastante. Era um embate corpo a corpo, como nas Olimpíadas da antiguidade. As deusas estavam arranhadas e sangue sagrado corria pelos corpos curvilíneos, abrindo caminho entre hematomas e trechos de pele roxos pelas pancadas e mordidas. Os cabelos estavam desarrumados… Hera, ainda assim, tentava esconder as partes íntimas dos olhares curiosos.

 

- Pudor até no meio da luta Hera?! – Afrodite gargalhou irônica. Resfolegou. Cuspiu sangue. – Cadela velha não aprende truque novo mesmo, não é? – Só para constar Afrodite era mais velha que Hera. – Aconselho a prestar atenção apenas em mim e não na macharada. Punheta eles vão bater antes de você ter a oportunidade de matá-los, e, mesmo assim, também baterão punheta no Hades. Não adianta esconder esses peitos caídos e essa xoxota escancarada.

 

Risos do público. Hera enrubesceu.

 

Fúria era o mais excitado de todos os torcedores. A imagem de Afrodite despertou nele um instinto insaciável por sexo. Do subconsciente, levantaram-se memórias de quando era bebê. Do primeiro encontro com Afrodite. Da primeira ereção. Aquele encontro havia selado seu destino. A compulsão sexual que tinha, talvez, decorresse daquele dia dramático com Afrodite ocorrido anos atrás.

 

Ambas estavam cansadas e se estudavam enquanto se ofendiam. O nível dos argumentos decaiu e a discussão só se resumia a ofensas e provocações próprias de barraqueiras. Com efeito, era difícil manter uma batalha ideológica sobre as concepções de vida das deusas oponentes estando elas exaustas. A tarefa mais difícil para qualquer ser vivo é eliminar outro ser vivo, por isso as guerras sempre foram as maiores inspirações para as inovações tecnológicas. Se a dedicação, estudo, capacidade de inovação e trabalho de um ser vivo ou de um povo é menor do que a do inimigo, certamente irá ser extirpado da história.

 

- Você dá para todo mundo, pedaço de escroto! – Respirava Hera com dificuldade.

 

- Corna mansa! – Cansada, agachou-se a deusa do amor. Estudava o momento mais propício para o bote.

 

- Periguete! Tenho uma listinha de atitudes suas que provam que é uma puta! – Hera curvou-se e apoiou os braços no joelho, sem se importar mais com os olhares atrevidos da torcida dirigidos aos seus peitões pendurados ou à sua bunda branquinha empinada.

 

- Interesseira! Enfia sua lista no cu! – Afrodite ergueu-se decidida.

 

Depois de muitas ofensas e de trazerem à tona questiúnculas passadas. Depois de arrolarem as inúmeras vezes que uma fez cara feia para outra, que uma fez biquinho para a outra, atracaram-se novamente, ambas com o objetivo de acabar de uma vez por todas com aquela peleja desgastante, tanto fisicamente como mentalmente.

 

E finalmente Afrodite conseguiu ficar sobre Hera, prendendo um dos braços da oponente com as coxas saradas. Alheia às joelhadas nas costas e aos raios que caíram sobre sua nuca e daqueles que partiam do próprio corpo de Hera, Afrodite bateu a cabeça da deusa do matrimônio contra o chão inúmeras vezes, afundando-a, ao mesmo tempo que exalava um forte perfume alcoólico, que acabou nocauteando Hera.

 

Logo, uma poça de sangue se formou embaixo da cabeça de Hera. Afrodite cessou a agressão e desabou do lado do corpo da inimiga milenar.

 

O poder dos raios e da loucura de Hera não foram suficientes para aniquilar a energia e a fluidez do Amor. O Matrimônio havia perdido.

 

Alheio à luta divina que acabara de ocorrer, absorto em seus próprios pensamentos, estava Trevas. A visão de Eros tocou o filho maldito, principalmente quando a entidade celestial tombou vítima do raio de Hera. Queria ajudar, mas ficou imóvel. Se sentia um lixo. Era um ser omisso? Covarde? O que impedia? O que pretendia? Um mar de dúvidas pairava sobre a mente confusa de Trevas.

 

Aquele encontro com Eros, quando ambos comungavam a infância, era o responsável pelas crises existenciais de Trevas. A seta de Eros, aquela que o alvejara na única vez em que haviam se encontrado, deixou sequelas profundas naquele ser nascido para ser puramente maligno. As incertezas e vacilações de Trevas pareciam ter voltado com força total e, dessa vez, permanentemente, pensou seriamente no que fazia e se retirou para as sombras, como um emo. Lembranças da família de pássaros que matou no dia do encontrou com Eros surgiram agressivas na sua mente. Chorou. Viu o terror dos deuses que acabara de eliminar. Precisava de paz no coração, mas não sabia como obtê-la. O sentimento de culpa era muito grande, como se fosse uma mulher ocidental vítima e autora de estereótipos. No seu íntimo, suspeitava que matar e destruir era errado e que tais atitudes o tornavam um monstro, mas não tinha certeza e não conseguia parar. Era um vício. Tornou-se um ser totalmente imprevisível. Uma chama de amor queimava forte no coração sombrio de Trevas e talvez ela fosse a responsável pelo destino de todo os nove mundos.

O governo de Hera não durou mais do que alguns minutos para infelicidade da deusa do matrimônio e para felicidade de todos os seres vivos do universo. Hera foi derrotada de todas as maneiras possíveis: física, ideológica e moralmente. Apolo riu e se sentiu bem ao ver aquela cena deprimente. O crepúsculo de uma inimiga. Hera jamais voltaria a atentar contra a sua vida e contra a vida de sua mãe, Latona. Afrodite, apesar de extenuada e gravemente ferida, toda chamuscada, voltou, engatilhando, descabelada, mas ainda assim bela, para junto de Eros. Queria cuidar dos ferimentos do filho. Temia uma recaída de Eros. Só pensava nele e em Anteros.

 

Das sombras, Trevas olhou de longe a cena e se sentiu angustiado; uma grande compaixão lhe tomou o coração; queria ajudar, mas não sabia como. Também sentiu inveja, raiva e rancor por não ter uma mãe tão bondosa e carinhosa como Afrodite. Inveja. Suas tutoras, Éris e Despina, foram exatamente o oposto daquilo: desprezíveis, cruéis e amargas. Batiam em Trevas. Eram amargas e violentas. Imagens da violência que sofrera povoavam seus sonhos… ou pesadelos? Dor e ressentimento lutavam contra o pouco de amor deixado por Eros em suas entranhas.

 

Os titãs e os demais presentes se retiraram satisfeitos e indiferentes ao resultado da guerra particular das deusas, cada qual com sua maquinação, cada qual com sua carga de valores. Apenas uma criatura ficou ali, à espreita: Fúria. Queria experimentar a periquita mais apertadinha do universo, aquela que fez Zeus aturar Hera por tantas eras…

 

Hera só queria a perfeição em um mundo imperfeito.

 

Largada conscientemente pela deusa do amor, para degustar o sabor da derrocada, Hera refletia, entre dores e lágrimas, sobre suas escolhas, sobre os rumos que tomou… Conhecia, naquele momento de dor e derrota, o total o arrependimento. Reconheceu em seu âmago que a ambição a cegara. O ciúme, a raiva, as atitudes… Sim, Ísis tinha razão quando disse, durante seu expurgo, que Hera era submissa ao poder dos deuses e que negava a própria natureza feminina. A ideia de uma sociedade matriarcal e matrimonial agora lhe parecia estúpida. Seria apenas uma outra ditadura. Entendeu que o posto de líder não fazia distinção entre os sexos. Entendeu que era ridículo achar que uma sociedade controlada pelo sexo feminino seria, por si só, melhor que outra controlada pelo sexo masculino ou por um terceiro, quarto ou quinto sexo que viesse a existir. As decisões de um governante não tinham qualquer relação com o sexo, mas sim com as circunstâncias e com o pensamento político adotado. Governar tratasse de ideologia, competência e caráter…

 

Lembranças de sua trajetória vieram à tona. Lembrou-se de sua fuga da prisão orgânica, dos anos difíceis e de guerrilha da titanomaquia, do amor platônico que nutria por Zeus logo nos primeiros anos…

 

- Zeus… não, nosso amor é impossível. Você já tem Métis. E eu não quero ser a outra. Tenho bloqueios. Eu quero um amor só meu, exclusivo, que me ame e respeite…

 

- Ela não precisa saber, Hera. Eu te amo. Estou disposto a assumir o risco.

 

- Zeus, não quero desrespeitar os sentimentos dela, não fui criada para ser a segunda, um mero prazer casual. Não quero saciá-lo nas sombras… Eu te amo, mas nosso é amor é impossível. Não posso, desculpe…

 

- Eu posso conversar com ela. Métis é sabia. O poliamor é um caminho. Afrodite me disse que se as pessoas se amam, elas podem ficar juntas, sem formalidades, sem frescuras… Talvez Métis permita um relacionamento a três… – Zeus se aproximou de Hera. Tocou-lhe a face, tentou beijá-la…

 

- Não, não quero ser a putinha da relação. Não seja inconsequente!

 

- Mas… é amor, eu te amo.

 

- Não, não posso, se não puder casar com alguém, prefiro ficar sozinha. Vou passar alguns anos com mamãe, querido. Eu te amo, mas… – E fez draminha e cu doce próprios da imaturidade.

 

- Mas… – Zeus, lógico e racional que era, não compreendia porque ele não podia ficar com Hera e Métis se ele amava ambas e se era amado por ambas. Deusas! Jamais poder-se-ia esperar um pensamento lógico delas no campo do amor. Eram o mais puro egoísmo e egocentrismo.

 

E assim Hera se retirou e foi para junto de Reia, acreditando que tinha uma grande capacidade para amar, mas pouca para ser amada. Hera, interessada pelo assunto casamento, passou anos estudando o matrimônio e concluiu que, de fato, era a melhor forma de união entre os sexos opostos. “Um para um, nada de poliamor”, tentava se convencer. Achava o poliamor uma promiscuidade sem tamanho. Os anos se passaram e Hera, já deprimida, sem um deus para lhe fazer companhia e para por em prática a sua teoria de que o casamento era um instituto válido, legal, frutífero, saudável e indispensável para ambos os consortes, veio a saber que Métis estava desaparecida há meses. Pensou em voltar para encontrar e conquistar Zeus, mas se sentiu uma oportunista. Enquanto houvesse uma chance mínima de Métis voltar, aguardaria. Resolveu se manter casta e virginal por mais algum tempo. Não atrapalharia nenhum casamento. Se Métis realmente não reaparecesse e fosse declarada oficialmente desaparecida, ela se aproximaria de Zeus e se casaria com ele, como sempre sonhou. Zeus era tudo de bom =)

 

Passados algumas semanas, entretanto, Zeus se casou com Têmis e o mundo de Hera veio abaixo. “Burra!!! Burra!!!!! Um deus daquele não ficaria muito tempo sozinho.” Se penitenciou todos os dias desde então. Voltou à depressão.

 

Mais algum tempo passou e o casamento conturbado de Zeus e Têmis também se dissolveu. Ambos discutiam muito as questões políticas do Olimpo e as questões relativas ao relacionamento ficaram de lado. Zeus privilegiava o crescimento do poderio do Olimpo e o intervencionismo nos panteões menores, enquanto Têmis buscava uma sociedade mais justa, porém fechada em si mesma.

 

Hera, dessa vez, foi rápida. Imediatamente partiu para o Olimpo para laçar Zeus, certa de que ele e ela foram feitos um para o outro. Casaram no dia seguinte…

 

Os primeiros anos foram dourados, mas a necessidade de sexo de Zeus era gritante. O cara era uma verdadeira máquina de sexo. Passado algum tempo, Hera se perguntava se era um mero objeto sexual ou uma esposa. Resolveu limitar a quantidade de sexo para apenas duas vezes por dia. Houve conflitos, brigas, Zeus passou a se masturbar compulsivamente, inclusive na frente dela, até que um dia Zeus voltou para casa com cheiro de boceta no rosto. Hera ficou irada. Por semanas não se falaram, pois Zeus saía de casa e não dava mais qualquer satisfação. Hera passou a vigiá-lo, contratou detetives particulares e ficou sabendo que Zeus a traía frequentemente e que não escondia isso de ninguém. Pensou no divórcio, mas não, ela era a deusa do casamento, o que as pessoas diriam? Dar razão a Anteros, o deus do divórcio? Negar tudo o que estudou e acreditou nos últimos anos? Procurou conversar com o marido, fazer terapias de casal, mas a fênix de fogo de Zeus teimava em renascer várias vezes ao dia. Buscou deixar o deus entretido, às vezes transavam dezenas ou centenas de anos sem parar, mas quanto mais Zeus fazia, mas sentia necessidade de fazer. Era uma vontade que se retroalimentava. Hera não aguentava mais ficar nesses longos períodos de sexo e, mesmo assim, não ter a percepção de que Zeus estava satisfeito e de que não procuraria outras deusas ou mesmo mulheres, seres totalmente subdesenvolvidos. Ficou frustrada e irritada, estava assada, na frente e atrás, mas ainda assim não abriria mão do casamento. Amarga e sem controle da situação, começou a matar as amantes de Zeus e confinou Anteros no Tártaro, sem ninguém saber. Matar as amantes do marido foi a única medida eficaz contra Zeus, que buscou fazer sexo com outras deusas, ninfas e mulheres escondido de Hera, não mais de forma escancarada e despreocupada. E daí surgiu uma guerra velada nos bastidores pela vida ou morte das paixões de Zeus, que duraria até os dias de hoje. E nessa guerra foram envolvidos Hércules, Apolo, Ártemis e muitos outros. Hera até articulara, neste meio tempo, um plano para depor Zeus, que foi frustrado pela intervenção sorrateira de Tétis, a nereida, e habilidosa de Briareu, o hecatonquiro. As recordações de Hera continuaram. Lembrou-se do dia em que Freya e Flidais aportaram no Olimpo, da droga que ingeriu, que fora dada por Zeus, do que ocorrera com Puff, das palavras duras de Ísis…

 

 

Abandonada por todos, sozinha, imóvel, nua, envergonhada, frágil, após minutos, talvez horas, de pensamentos, angústias, medos, desesperos, Hera decidiu fugir de tudo aquilo. Estava pagando o preço da ambição. Voltaria para os braços da mãe, Reia, há muito tempo isolada de todos, desgostosa com os rumos que sua prole, outrora virtuosa, tomara. Hera esqueceria Afrodite, Hércules, Ísis, o Olimpo e… Zeus. Porém…

 

Fúria, filho de Poseidon e Tétis, a nereida, atacou a tia indefesa. Estuprou Hera inúmeras vezes, esmurrou-a violentamente e depois de saciado a estrangulou até que a deusa parasse de se mover. Aquele contato inicial com Afrodite, em tão tenra idade, o deixara extremamente faminto por sexo e a cada dia sua compulsão sexual aumentava mais e mais. Era viciado em sexo, tanto quanto Zeus, mas, diferente deste, não conquistava seus pares amorosos, Fúria obrigava-os a manter relações sexuais. A formação desprovida de bons valores e carregada de egoísmo impedia Fúria de ter empatia ou compaixão. Fazia com que o jovem deus se importasse apenas em saciar seus instintos mais primários, mesmo que passageiros. O crime foi visto de longe por inúmeros olhos curiosos, alguns incrédulos, outros vingados, outros coniventes, outros indiferentes. O certo é que ninguém fez nada.

 

CONTINUA…



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